domingo, 24 de fevereiro de 2013



Direitos Humanos para Todos.
J. Norinaldo.


Eu morava no Rio de Janeiro na época em que houve naquela cidade o trágico episódio do massacre da Candelária, o mundo inteiro foi contra,como não podia deixar de ser, o pessoal dos Direitos Humanos teve munição por muito tempo para condenar e criticar seus praticantes e simpatizantes. Eu fui e serei sempre um dos críticos,sempre serei contra esse tipo de comportamento. Agora, vou relatar algo correlato algo presenciado ou vivenciado por mim, não foi niguem que me contou; servia num quartel de Fuzlieiros Navais bem próximo a Praça Mauá, e tínhamos um cabo que fazia faculdade a noite na Barra da Tijuca, morava no quartel e retornava para casa ou para bordo como fala-se na caserna por volta da meia noite de segunda a sexta feira. Todas as noites era a mesma rotina, hilário se não fosse triste e perigoso, quando o coletivo se aproximava da parada onde o cabo deveria desembarcar, justamente próximo a Candelária, onde ficavam os meninos chacinados tempos depois, os motoristas abriam a porta traseira antes, e assim que o ônibus diminuía a marcha, o cabo saltava e aproveitava o impulso para sair numa desesperada corrida, para escapar daqueles meninos; até que falou com o Almirante que comandava o tal quartel, e este determinou que no horário de regresso desse pobre cabo, membros da guarda, armados de fuzil e pistolas fossem escoltá-lo até a sua casa que era o nosso quartel. 
Lembro-me da manhã fatídica, quando cheguei a Praça Mauá, e vi o grande aglomerado em volta da banca de jornais tão conhecida, sabia que algo de anormal acontecera, lá o jornaleiro abre o jornal e prende do lado de fora da banca, como chamariz. Aproximei-me e comprei o jornal, enquanto tomava um cafezinho servidas pela Marli, que tinhas as mãos todas manchadas, quem é daquele tempo e freqüentava ou passava pela Praça supracitada tem que Lembrar da Marli, lia o que o o jornal estampava, e pensei: O que será que pensa, e lembrei o nome do cabo, claro que jamais seria sincero numa resposta dado a uma entrevista, mas, digo, lá entre ele e ele mesmo...
Na verdade nunca ouvi antes nenhuma manifestação do pessoal dos Direitos Humanos sobre os direitos humanos que tinham o cabo em questão e tantas outras pessoas, assaltadas, cortadas com laminas de barbear, traumatizadas que no desespero conseguiram escapar ilesos daquela matilha que ali vivia; insisto, sou totalmente contra a morte, aliás, tenho dito por aqui, Odeio essa senhora, e o que puder fazer para tumultuar sua vida farei, agora pergunto, que tal exercitarmos um pouco a tal empatia, e nos colocarmos no lugar do cabo fuzileiro e de tantos outros que sofriam nas garras daquele time?
Direitos Humanos tem que ser para todos, isto é, uma via de duas mãos e não o contrário, e acredito, exemplo: aqueles meninos da Candelária tinham direito a um lar e a uma vida decente, para não atrapalharem a vida do cabo que queria apenas estudar para deixar de ser cabo. Agora, aparecer para reclamar depois do leite derramado, principalmente o leito dos outros... É muito cômodo.
De que lado eu estou? Do lado certo, ou seja, do lado dos Direitos Humanos. Afinal, também sou humano...

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Amizade.
J. Norinaldo.


Posso dizer que passei uma vida procurando dois amigos de juventude, nos vimos a última vez em 1967 e consegui falar com os dois em 2010, são irmãos e eu os considerava muito mais do que isto, muito mais mesmo, nem tenho idéia do quando mais, eu os considerava meus amigos. Andei inclusive fora do Brasil e quando ouvia alguém dizer que conhecia alguém com o nome de algum deles,  andei bastante sem nenhum resultado, veio a Internet, e um dia uma amiga do Orkut me deu a boa e grande nova, encontrara  alguém que correspondia as características do meu amigo, conseguiu um telefone, liguei e era ele. Nossa! É bem difícil descrever minha emoção e a minha decepção ao falar com alguém que parecia não me conhecer e fazer questão de frisar o tempo todo numa conferencia da qual fazia parte; em fim, não morri, creio que aprendi alguma coisa, não sei.
Estou escrevendo isto, exatamente por que faz mais ou menos 3º minutos, ou meia hora, que minha mulher trouxe o telefone até onde estou, aqui na frente do micro, vendo minhas postagens no Facebook, e não me disse quem era, quando atendi, era um amigo que há muito não aparecia ou ligava, nem atendia nossas ligações; como estamos na melhor idade, não para mim, a idade do Comdor, já pensava seriamente em não ver mais este amigo.
Interessante que durante nossa conversa, por várias vezes o fluxo foi interrompido, e ele não fez questão nenhuma de esconder que estava realmente emocionado; e pensei: já acreditava não ser mais capaz de causar este tipo de comoção em alguém, até por que tenho tido algumas decepções com novas amizades, ao ponto de reservar essa palavra para pessoas e ocasiões muito raras e especiais.
Obrigado amigo, meu dia estava um tanto opaco, de repente tudo começou a brilhar, e comecei a ver tudo colorido, a música a todo volume na casa do vizinho que antes parecia uma tortura, tornou-se suave e de bom gosto. Poxa, apenas um telefonema, imagine um abraço, aquela conversa a sombra de uma árvore, algo tão simples, ou que parece simples, mas não é, principalmente quando existe esta palavra mágica, poética, santa: “AMIZADE”.
Portanto, muito obrigado, mas, muito obrigado mesmo a você que permite que eu te chame de AMIGO.



Ser, Ter e Perder.
J. Norinaldo.


Hoje eu tenho bastante tempo para pensar, lembrar de coisas que vivenciei num passado não tão remoto, mas que na época não lhes dei a importância necessária, agora, nas longas noites de insônia, me voltam essas recordações, das quais procuro tirar algum proveito. Esta noite, lembrei-me de um Almirante que conheci, não intimamente, sem amizade, conheci o seu rigor, o seu poder e a sua fama. Servia no Complexo Naval da Ilha do Governador no Rio de Janeiro, onde cheguei no inicio do ano de 1966, oriundo de Recife. Foi ali que conheci essa verdadeira legenda, que evitarei o nome aqui, mesmo não estando mais entre nós, mas mesmo assim, vez por outra sonho fugindo de suas garras, nem sempre consigo mesmo em sonho.
Muito bem, lembro como se fosse hoje, que quando alguém dizia: O Almirante está na área, falo aqui em meu nome, mas creio que a maior parte daquela ilha ficava com os nervos a flor da pele como a esperar o apito de pênalti a qualquer segundo. Lembro-me de uma famosa inspeção de uniforme que participei com esse oficial, quando o mesmo chegou a minha frente, me olhando nos olhos pensei que cairia em segundos, não cai, ele mandou que eu erguesse o gorro, e disse com sua voz de Almirante, aliás, era o que era: “Anota o resto!”. Servi de piada, o que me livrou de uma cadeia.
Diga-se de passagem, não quero aqui ser leviano, esse oficial general era rigorosíssimo com seus subordinados, mas consigo também, seu uniforme era impecável, realmente tinha pinta de almirante, o que não era tarefa difícil, é claro, com uma equipe destinada e treinada, cursada só para essa tarefa.
Costumava-se dizer na época: O Almirante chegou, a ilha inteira treme. Sai do Rio de Janeiro como cabo e vim servir no Rio Grande do Sul, estado onde moro hoje, na cidade de São Borja, mais conhecida como a Terra dos Presidentes. Gente, mesmo aqui, em São Borja, longe, muito longe da Ilha do Governador, eu não escapei dessa legenda supracitada, um dia, que já vai muito longe, esta cidade ouviu vários tiros de canhões, e o 2° RCMEC foi até a entrada da cidade, como muito militares montando seus belos cavalos, e acompanharam o almirante dos meus pesadelos, até a entrada do Destacamento de Fuzileiros Navais, onde hoje é a Unipampa.
Mas, como na vida tudo passa, o Almirante passou, passou para a reserva, eu continuei na ativa, voltei ao Rio de Janeiro, para o mesmo lugar, Ilha do Governador, e um belo dia, o Presidente da República participaria de um cerimonial de entrega de espadas aos Guardas-Marinha, na Escola Naval e eu fui escalado como rádio operador; fiquei com um Capitão-Tenente na estrada da escola organizando e recebendo as autoridades que chegavam para o evento. O estacionamento para os seres normais, ficava na cabeceira do
Aeroporto Santos Dumont, a uma considerável distância, você desembarcava lá e volta a pé, só autoridades desembarcavam na entrada do evento. De repente quem eu vejo chegando num Opala beje, cor da nossa farda? Quem? Nem adivinham? Pois é gente, o meu Almirante, eu o reconheci na hora, ora se eu o visse hoje o reconheceria, foi muito medo, pavor, pânico. Parou o carro no local destinado a autoridade, o capitão que se encontrava dando instruções ao motorista de um jovem Governador de um estado do nordeste, viu e me gritou: Manda esse carro seguir para o estacionamento, eu rezei para que o almirante tivesse escutado e seguisse sem minha intromissão, mas não, ele ouviu, mas virou-se para mim e disse, já não com aquela voz que eu lembrava tão bem: Avise ao oficial que eu sou e me disse como se eu não soubesse, senti vontade de ri, não ri. Está esperando o que? Gritou-me o oficial, criei coragem e disse, não sei como saiu minha voz, mas senti certa felicidade ao dizer:  Vossa Excelência terá que seguir para o estacionamento e de lá voltar a pé, fiz questão, era minha grande vingança; apesar que sonhava mesmo era dizer: Ergue o gorro. Anota tudo.
O que sentiu aquela autoridade, agora ex autoridade enquanto voltava do estacionamento, será que a distancia percorrida a pé e muito empoeirada pareceu a mesma para todos que para eles esse sempre foi um procedimento normal? E a família que estava junta?
De certa forma fiquei triste e pensei: A vida é uma merda. Vocês queriam o que? Eu estava só pensando. E é, se você não descobri  isto a tempo, e souber que tudo na vida passa, acreditar que só existem o ter e o poder, o perder fará com que você descubra isto da pior maneira.

domingo, 10 de fevereiro de 2013




Beleza, Riqueza e Felicidade.
J. Norinaldo.


Outro dia numa visita a uma amiga, conversávamos sobre vários assuntos como ocorre em longos papos, de repente surgiram meus contos ainda inéditos e comecei a contar alguns deles incompletos é claro, mas que dava uma completa idéia do contexto. Ela ouvia atentamente sem me interromper, terminava um e logo vinha a pergunta: lembra de mais algum, estou adorando; no final, quando nos despedíamos, ela olhou-me sorrindo e disse: Posso lhe fazer uma pergunta, claro que seria mais de uma, respondi afirmativamente e veio: Por que todas as mulheres dos seus contos, pelo menos os que me contou, são linda? Instintivamente olhei para a cadeira onde estivera sentado até então, ela entendeu e disse:  A pressa é sua, adoraria ouvir a resposta da minha pergunta, que realmente me chamou muito a atenção. Sentei-me, pedi um copo d’água e comecei: Sabe, este livro que te trouxe outro dia, meu primeiro romance editado, que você disse ter adorado a história? E é a mais pura verdade afirmou ela; pois bem, quando apresentei os originais na editora, o encarregado de corrigir o texto chamou e disse:  A capa do seu livro não vende, a história é muito boa, prende o leitor do começo ao fim, mas sem uma capa boa, o leitor não vai ficar sabendo da história; quer eu lhe faço uma capa que realmente chama a atenção. Eu argumentei que a minha capa contava um pouco a história ali embutida, e ele asseverou: Como já lhe disse o leitor só vai saber disto comprando e lendo seu livro, com esta capa, acho difícil. Insisti na minha capa, não vendi quase nada.
Está mais do que provado, que a beleza externa ainda é de valor preponderante e predominante para nós seres humanos, o que não acontece com os irracionais, você jamais verá uma águia demonstrar nojo de um abutre, ou vice versa.
Sabe, outro dia fui convidado para uma janta na casa de uma amiga, coisa simples, mas era uma festa, uma comemoração, ela ganhara na justiça a casinha onde mora com seus sete filhos. Uma galinha com arroz, cada um com seu prato na mão, mas ali, eu pude ver a felicidade, tinha quase certeza que se quisesse poderia até tocá-la; olhando para a casinha, num terreno de 10x20m dois quartos, sala, cozinha e banheiro, para oito pessoas; e ai, veio-me a cabeça a história da filha de um armador grego que há muitos anos cortou os pulsos e morreu dentro de uma banheira, que com certeza custara muito mais não que aquela casinha, motivo da festa e de tanta felicidade, mas de todo quarteirão onde ela se encontra.
Ai, eu te pergunto: será que novamente irei errar na capa do meu próximo livro? Será que a felicidade está realmente onde eu acredito que esteja? Você compraria meu livro, caso tivesse na capa uma mulher muito feia, aparentemente, tendo ao lado um cão sarnento?
Agora te pergunto eu: Por que a tua pergunta? Até por que você é linda...Que tal ser a capa do meu próximo livro? Ela franziu a testa, deu um sorriso e respondeu: Seria uma honra, mas, sei lá, muita responsabilidade. Como será que se comporta alguém que é capa de um livro?
Sei lá, respondi.


sábado, 9 de fevereiro de 2013



Valores e Valores.
J. Norinaldo


Existem alguns ditados populares que são verdadeiras profecias, por exemplo: ”Para valorizar o que temos primeiros tens que o perder”. Nossa! Isto cai como uma luva, agora, existem outros maneiras de valorizarmos  aquilo que temos é claro, uma delas é a vida; se temos uma vida estável, sem muitas preocupações, e nos fechamos num pequeno ciclo não damos muito valor a isto; uma das melhores maneiras que temos é viajarmos, conhecermos outras culturas, outras vidas em fim. Há pouco fiz uma viagem, não muito longa, e numa outra cidade, procurei ver o máximo que poderia armazenar na memória para analisar depois com calma friamente. Fui a Rodoviária e sentei-me num banco como se esperasse o horário para saída do meu ônibus, de repente senta-se ao meu lado, senta-se não, literalmente se atira, pois se o banco não fosse bastante resistente não teria suportado a carga; pois bem, um senhor de idade elevada, se atirou no banco o que me chamou a atenção, olhei para ele, e parecia conversar sozinho, pois falava olhando para a frente, como se eu ali não estivesse. Entendi que dizia: Não é longe, mas também não é perto, mas se ficam parados nos cobram os olhos da cara. Pensei comigo que devia falar de um taxi, depois sim, virou-se para mim e disse baixinho: os dois joelhos calcificados, para atravessar um rua é perigoso. O que concordei e foi só. Depois se aproximou um homem, que dava a impressão de ser um robô que por falta de verba teria sido feito sem nenhum aperfeiçoamento, ou terminado quando ainda faltava muito, pois andava, se é que aquilo era andar, se atirando para a frente, enquanto seu tórax se movia para um lado e os quadris para o outro e a cabeça  fazia um movimento para os dois lados, dava a impressão que cairia logo, mas não caia.
Depois veio uma senhora, também com bastante idade, que tinha num dos braços um animal tatuado, é claro que aquele leão, pois era o que parecia ser, já tivera uma postura bem mais elegante, mas ali estava, como se também tivesse bastante idade. De repente surge uma moça linda, saia curtíssima e uma blusa mais curta ainda, não sei se economia de tecido, ou era justamente para deixar a mostra bastante tecido; olhei para ela não sei explicar a maneira, mas a maneira como me olhou explico sem problemas, com verdadeiro nojo, como quem diz: Se manca coroa, vai procurar tua turma.
Voltei para casa, muito cansado, almocei tarde e dormi, acordei lá pelas 08h00 e não jantei, fiz um lanche e dormi novamente. Lá pelas 03h40 acordei com muita fome, tremendo realmente, sinto-me muito mal nessas situações, enquanto esquentava um leite para tomar com café, derramei sucrilhos num prato com leite frio e comecei a comer e a pensar. A fome é algo terrível, mais terrível ainda quando você não tem como saciá-la, pensei em tantas pessoas que vi na minha curta viagem, todos teriam a mesma sorte? Ah! Ai me veio a mente a tal moça bonita e pensei: se agora, em vez de sucrilhos e café com leite, pão, queijo e presunto, alguém me apresentasse aquela linda mulher com menos tecido ainda sobre o corpo qual seria a minha reação? Ou então, ela numa situação idêntica, tremendo de fome, nada tendo para amenizar tal situação, e eu tendo o que tenho agora e perguntar-lhe: “Quer que procure alguém jovem e bonito para alcançar este alimento para você?” Você tem alguma Idea da sua reação? Já pensou nessas coisas? Já olhou para alguém com nojo ou aversão apenas pela sua aparência? Pense, e converse com você mesmo (a) A mim faz um bem...