sábado, 31 de outubro de 2015




Carta aberta a Mim Mesmo.
J. Norinaldo.



Caro amigo, creio que temos intimidade bastante para uma conversa aberta e sincera  e franca sem senões nas entrelinhas, meias palavras ou termos equívocos. Idade suficiente para reconhecermos  as besteiras da juventude, mas não suficiente para justificarmos os da velhice, que espero que esteja longe. Como assim terceira idade? Sejamos claros,  amigo, afinal como supracitado aqui a conversa é franca, sabemos e conhecemos meninos velhos com 13 anos e velhos meninos com 90 anos. Afinal percorremos com certeza a maior parte do caminho a ser percorrido, isto não significa, no entanto que vamos nos sentar a uma sombra e esquecermos o que ainda temos caminho   a percorrer, afinal podemos ter pela frente realmente tudo, que não vimos ou vivemos até agora. O que haverá no fim da estrada? O fim e nada mais, e nada mais significa nada mais ver, nada mais ter, nada mais viver; então, aproveitemos o tempo e a disposição, e a vontade de ver o que é belo, de fazer o que é belo, afinal, de sermos belos. Se ficarmos aqui sentados não chegaremos ao fim, ele virá até nós, e aqui pra nós, não foi isto que projetei para nós. Durante toda caminhada toda fruta que colhemos, não destruí a semente, a enterrei mais a frente pensando em quem vem atrás; quantos não chegarão aonde chegamos, não colherão os frutos que nós plantamos e não ultrapassarão nossas pegadas? Quantos escolheram algum atalho e no deserto se perderam, pensando serem sábios se renderam  ao egoísmo por falta de pensar confundiram com altruísmo, pregado por algum falso pastor. Não! Nós vamos seguir em frente, sem esquecer de enterrar sequer uma semente, somente porque deste fruto não iremos desfrutar; sabe porque, por todo fruto que colhemos, toda sombra em que nos amparamos, não fomos nós que plantamos, mas alguém o fez por nós. Bem! Lá na frente há uma curva, se for a última, nada podemos mudar, se não for aquela, com certeza,  outra será e só poderá está a frente, as que ficaram é passando, onde estamos presente e o que vem não se sabe. Fazia já algum tempo que precisávamos dessa conversa, na pressa da juventude  a gente pensa sempre que aqui nunca vai chegar; só pensa em felicidade, em festa vitalidade ver o mundo diferente, conversa séria, deixa bem mais lá pra frente e espera-se que demore muito a chegar; mas chega tão de repente, surpreendendo até o mais previdente, e nossa hora chegou. Que faremos do caminho sem saber o que nos resta, e o que fizemos de tanto caminho que já não temos? Como seremos lembrados, por alguma coisa boa? Agora tendo  o calcanhar como popa e dos dedos dos pés como proa, e a experiência no leme; sem nenhuma chance de retorno e sabendo que do pico para baixo o tempo voa. Bem, até agora só eu falei, obrigado por não me interromper, agora é com você, pois agora o mesmo eu faço, sem diminuir o compasso diz o que vamos fazer...

quinta-feira, 22 de outubro de 2015




O Muro das Lamentações.
J. Norinaldo.



Se o mundo estivesse interessado nos temporais que você iria enfrentar e não na importância de trazer o navio a salvo ao cais, muita coisa teria que mudar neste próprio mundo, em primeiro lugar eu nunca soube de marinheiros nos dias de hoje e capitães de navios em tempo algum sendo caçados e levados arramados a bordo para comandarem Navios. Portanto existem centenas e quiçá milhares de profissões em  não se é necessário sequer conhecer o mar. Claro que muitas vezes escolhemos uma profissão por considera-la glamorosa, por vermos outros nela fazendo sucesso e na realidade nos deparamos com outra verdade.; e ai colocamos a culpa em alguém. Conheci pessoas desesperadas por um emprego passando inclusive necessidade, formado e com uma profissão de estatutos,  tendo inclusive participado de maneira ativa para encontrar e influenciar através de amizades em um emprego para o mesmo, que no momento só faltou se ajoelhar a minha frente agradecendo de mãos postas; seis meses depois está com a mesma empresa a quem o recomendei e de certa forma me responsabilizei indiretamente, na Justiça e dizendo aos quatro ventos que aquilo não é trabalho;  que não foi para isto que se formou. Com razão talvez, eu mesmo não escolhi o que queria ser, não estudei o suficiente para ser o que queria, pude chegar apenas onde podia; mas nunca disse que fui obrigado a ser o que não queria; as vicissitudes da vida e o meu próprio desempenho me levaram até onde eu podia ir, inclusive enfrentando tempestades sem que o mundo estivesse interessado. A não ser aqueles que como eu estavam no mesmo barco. Tenho a impressão que a vida te diz como é o mar é como é o continente, nem todos sabem fazer um barco, nem todos sabem remar ou pilotar um navio, é glamoroso posar um Boeing e depois  atravessar o salão do aeroporto seguido por belas comissárias e aeromoças, o mesmo não acontece quando existe uma falha e a aeronave é sinistrada; o mundo que esperava esta chegar sã e salva chora e culpa alguém que já não tem como se defender. Em fim a vida não obriga ninguém a nada, sequer a viver, agora o muro das lamentações existe, mas nem só lá é permitido se lamentar. No meu entender vale para qualquer um.

terça-feira, 20 de outubro de 2015




MANIPULAÇÃO.
J. Norinaldo.



Porque eu odeio se manipulado? Quando era muito pequeno, uma amiga da minha mãe que trabalhava para uma família muito rica e talvez por algum descuido quebrou-se alguma peça de  louça e essa senhora me trouxe de presente uma caneca muito bonita, eu nunca tinha visto nada igual, tinha grande amor por aquele presente e principalmente pelas figuras nele impressas, eram meninos e meninas vestidos de maneira muito estranha,  pelo menos para mim, as crianças também em nada eram parecidas com as da minha vila, a não ser o fato de serem crianças. Pareciam vermelhas e sardentas. Uma vez esteve em minha casa uma pessoa que considerei muito sábia e eu como era a única coisa importante que tinha para mostrar, peguei minha caneca e levei para que visse tal maravilha; ele olhou bem para aquelas crianças, as meninas além dos vestidos longos, usavam uma espécie de avental e uma boina muito grande, atirada pra um lado, usavam botas como os meninos que também eram muito brancos e sardentos. E foi ai, que fiquei sabendo tratar-se de crianças alemãs, eu já ouvira falar na Alemanha é claro por causa da guerra que terminara fazia poucos anos, mas não fazia ideia de como eram as crianças de lá e nem para que lado ficava. Tomei uma verdadeira aula de história Universal quando não sabia ainda a história da rua da vila onde vivia. E como soube também que as crianças nada tinham a ver com a guerra a não ser o sofrimento, passei a gostar mais da minha caneca e a admirar meus mais novos amigos da Alemanha, que perguntei a este sábio homem quantos dias levariam para chegar à Alemanha, no ônibus que passava em minha vila cujo nome era Barriga; e fui informado que nunca chegaria, a quantidade de anos que ele aventou, era demais para a minha cabeça, mas fiquei sabendo que era muito longe, muito mais longe do que Caruaru. Esses meninos amenizaram por muito tempo a minha solidão, além de contar cheio de empolgação aos amiguinhos sobre os meus amigos estrangeiros, alemãs; assim me ensinara o sábio: “Crianças Alemãs”. Sem deixar que ninguém a tocasse é claro. Um belo dia apareceu alguém na minha casa e acreditei que fosse digna de conhecer a história da minha caneca, me esmerei ao máximo romanceando um tanto, pois creio que naquela época a veia de romancista já corria algum sangue; qual não foi minha decepção quando ao final da empolgada narração esta pessoa com um frieza de assustar diz: Que bobagem, essa crianças devem ter sido fabricada no máximo em Recife, são apenas desenhos que devem está em milhares canecas iguais a estas; quem foi que lhe contou essa bobagem. Que ódio! Não sei se já sabia o que era, mas sei que oi o que senti, todos meus sonhos brincado com aqueles meninos e meninas, os passeios pelos riachos na Alemanha, os ninhos de passarinhos que achávamos e que eram mais bonitos dos que os que eu conhecia, a quebrado encanto do encontro todo dia pela manhã no meu humilde café; tudo isto foi para o brejo, passei inclusive a ter raiva das figuras e de mim mesmo por ter sido idiota; Um dia, uma galinha que acabara de botar gritava feito uma louca e minha mãe a espantou com uma vassoura, ela pulou em cima da mesa e quebrou a tal caneca. Minha mãe coitada consternada quase chora e eu a consolei com algo que deve ter morrido sem ter entendido nada: não tem importância, era uma mentira mesmo. Desde então, odeio ser manipulado ou manipular alguém; outro dia uma amiga aqui me disse: “Da maneira praticando sincericídio, dificilmente terás muitos amigos”. Gostei da palavra, não posso falar em nome de ninguém sem ter nenhuma procuração, mas tenho quase certeza que toda criança que foi manipulada com mentiras, odiou quando descobriu a verdade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015




Eu Sou Pobre, Pobre, Pobre de Marré Deci!
J. Norinaldo



Quando eu era muito pobre, digo muito pobre bem mais do que sou hoje, descobri  em mim uma pobreza que não há riqueza que a consiga comprar; a certeza de escrever aquilo que me faz ir do homem mais  rico poderoso e forte, e não por ser pobre, ter  o gesto nobre de ler o que escrevi e chorar. Sorrir, pular e gritar como uma criança feliz, e para ser feliz uma criança precisa de tão pouco assim como eu louco, grito para mim mesmo, eu escrevi, eu que fiz. Pode até não ser nada, pode ter vários erros de grafia, mas assim como eu fazia quando nada tinha para ler, apelava apara a memória escrevia as minhas próprias histórias que na minha cama solitária lia.  O que seria? Loucura, poesia, fantasia? E por que tinha vergonha de mostra-las, e hoje mostro com orgulho e sem ter medo, de ser chamado de louco ou que alguém as jogue ao chão e as pisoteei; sabe  por que? Agora sei separar um não de um sim, que tenho que agradar primeiro a mim, mesmo que não agrade a mais ninguém;  mas não serei egoísta e mostrarei, sempre que puder mostrar para alguém. Continuo muito pobre, se nobre a mim não cabe jugar; como entre um vaso de argila e outro de porcelana, como um matuto de uma humilde vila e  um habitante de Barcelona; se o primeiro gostar daquilo que eu escrevo a ele eu devo o meu agradecimento, o meu reconhecimento, pois quiçá como eu fazia, quando sem ter o que ler eu escrevia como se fosse outro escritor, este matuto amanhã poderá ser um doutor e um grande amigo, e o habitante da metrópole um mendigo, pois a vida gosta muito de brincar. Ser pobre não me entristece talvez sentisse desgosto, vergonha e tapar o rosto, sem fosse totalmente desprovido do  Bom gosto, de ouvir alguém  uma bela poesia declamar, ou mesmo aplaudir de pé, ao ouvir cantar  Frank Sinatra, Celine Dion, Maria Bethânia, Fredy Mercury e Montserrat Cabalé. Isto seria pobreza, isto sim me causaria tristeza, mas ser pobre por falta de uma mansão, isto me faz rir e não chorar quero ter apenas onde morar pode ser uma barraca de lona e poder ouvir uma boa poesia e me deliciar com uma bela canção; por exemplo: “BARCELONA”.



Desamor ou Desapego e muito amor?
J. Norinaldo.


Lendo a primeira crônica de alguém a quem convidei a participar do Blog, além de verificar  o quanto não valorizamos uma criança intelectualmente apenas por ser criança, pude também recordar algo que talvez já esteja escrito por aqui e não me lembre. Posso não me lembrar se postei ou não, mas do fato jamais esquecerei; só discordo da Anamélcia autora da crônica supracitada no nome “ A Arte de Desamar” eu colocaria de Desapego.
Morava eu Duque de Caxias numa casinha pequena e isolada, apesar do Bairro nobre 25 de Agosto a rua monte Caseiros,  esta ficava nos fundos de um terreno enorme e tendo uma ladeira íngreme, uma escadinha junto ao muito da direita levava as duas casinhas construídas no final do terreno, não havia telhado e a laje era tão baixinha, pois em frente a cada casinha havia outra escada menor, portanto podíamos nos sentar sobre a laje sem muito esforço.
Um belo dia, minha mulher chegou a casa com um belíssimo pombo, marrom escuro e partes brancas, muito lindo mesmo, perguntei onde o conseguira e ela me explicou que o havia encontrado se arrastando pelo lixo com uma asa quebrada. Pegamos aquela pobre ave, ficamos horas a fio a fazer uma tala, enquanto minha mulher preparava os materiais necessários, fui a farmácia compra, mercúrio, iodo tinha em casa, gaze e esparadrapo. Por falta de prática fizemos um trabalho horrível, mas que não fez com que nosso paciente servisse de chacota, já que não havia nenhum outro pombo por perto e após a cirurgia foi direto para uma caixa de papelão forrada com alguns trapos para o também pequeno  banheiro da casa.

Ficamos felizes ao ver que se alimentava normalmente, e com o passar dos dias, e com o sofrimento dos novos curativos, dentro de dois meses nosso paciente estava novo de novo, com algumas escoriações é claro já não ostentava a beleza total do seu penacho, coisa que sabíamos que seria questão de pouco tempo para voltar ao normal. Num sábado pela manhã, pegamos a caixa e com seu morador e levamos até a praça de Duque de Caxias, onde havia uma grande quantidade de pombos, não se se hoje ainda existem, e abrimos a caixa e para nossa total felicidade, após alguma vacilação nosso cliente alçou voo e juntou-se aos seus pares, para os nossos olhos numa enorme felicidade de voltar ao convívio dos amigos e até do seu amor. Lembro-me que retornamos com os olhos úmidos. Quando subíamos a passarela que cruza a linha do trem, olhamos para uma lanchonete que tinha na frente uma máquina de fazer caldo de cana, muito minha conhecida, pois os pastéis dali eram famosos, em cima havia uma caixa d’água de cimento e vimos nosso amigo como se caísse dentro da mesma; tomamos um grande susto, ainda pensei sair por cima do muro da ferrovia o que me levaria até a tal caixa d’água e poderia salvar novamente nosso amigo, mas não houve necessidade, que alívio, de repente ele surgiu novamente e desapareceu voando com muita elegância. Orgulhosos pelo nosso ato, saímos falando a respeito e subimos o morro do Bairro 25 de Agosto até nossa casinha, foi ai que tivemos a maior surpresa daquela aventura, nosso paciente estava em cima do murinho que ficava abaixo da minha altura, e parecia dançar quando nos enxergou; Tentamos pega-lo, mas não conseguimos, mas contamos com suas periódicas visitas por muito tempo, depois inclusive acompanhado, A Cila minha mulher juntava  restos de pães e colocava numa velha bandeja, e não era anormal acordar com seu  Arrulhar. Dei-lhe o nome de Ralph em homenagem ao Paciente Inglês; que tempos depois também foi o nome de um cão que eu amei muito.

domingo, 18 de outubro de 2015




                                                                Da arte do desamar 


 
A literatura literária, psicológica e até mística, tem largo acervo sobre a arte de amar, teoremas e sugestões, conselhos e dicas sobre a incrivelmente prazerosa, arte do amar. 

No entanto, háumsilênciosobre a arte do desamar. Talvez porque não existamformulase cadahistória é única. Não acredito. Ainda quando piá, menina feliz  a explorar um mundo(pampasgaúchos), lembro-me dasensaçãode empinar pipas. E lembro-me daangústiaque sentia quando uma pandorga se soltava de minhasmãos, naânsiade querer fazer uma acrobacia maisousada ou simplesmente distração. Corriaatrásdela, não aceitava que tinha se ido, pulava muros, subia em telhados e quando alguma vez resgatava a pandorga, dilacerava meu coração ver que ela já não era mais a mesma; rasgões,hastesquebradas. Entãoa levavapra casa e tentava deixa-la como antes, mas invariavelmente nãoconseguia. 

Penso que foi nessaépocaque comecei a aprender adifícilarte do desamor. 

Um dia, quando percebi que tinha perdido a pipa, olhei pro céu e vibrei com sua liberdade, acompanhei somente com olhar, sem correratrás, atrajetóriaque fazia ao léu, livre de mim, senti que não era tão ruim assim, consolava-me saber que outra criança a resgatasse inclusive vim aprender depois que era uma brincadeira  interessante encontrar pipas por acaso de outros piás, uma competição entre as crianças) etambémconsolava-me saber que eu iria ter outra pipa. Também nessaépoca, eu já mais graúda, ganhei de um amiguinho ( que dizia sermeu namorado), um rouxinol. Joãozinhotrouxe-mea ave numa gaiola comum. Estava feliz porque o havia capturado pra mim e essa foi sua forma de provar seu amor infantil. Agradeci e fiquei na varanda de casa, eu e o rouxinol. Ele na gaiola, inquieto, eu na minha gaiola de tristeza(eu j? nesse tempo havia provado o sabor que nenhuma criança deveria provar: O da solidão). Pensei feliz,agora tenho um amiguinho que não me abandonará. Entãoo leveipra meu quarto, coloquei a gaiola junto a janela, pra que ele pudesse ver a beleza dos campos, osgirassóisdo quintal, a videira que nesse tempo estava cheia de seus frutos doces. Queria o ver feliz. Noarmazémcomprei alpiste, e coloquei água. Os dias se passavam, masmeu rouxinol cantava poucas vezes, geralmente pela manha, ainda na aurora. Depois, silencio e agitação. Entãosem que nada me preparasse pra minha atitude, peguei a gaiola e fui pros fundos do quintal,juntoaumajabuticabeirafrondosa. Sentei a sua sombra e colocando a gaiola no colo, abri vagarosamente a portinhola; lembro-me que tinhaesperançaque o rouxinol nãosaísseque quisesse ficar, ou que ao menos relutasse.Mas, quando viu a liberdade saiu tão rápido que sópude perceber o vento que suas asas agitadas naânsiado voo,fizeram. E tal como as pandorgas,fiquei látentando ver pra onde voava meu querido rouxinol.Quislhe agradecer pelos dias que estivera comigo,quislhe dizer do quanto tinha sidoimportante ter finalmente alguémpra compartilhar(sim porque não disse que conversava anoitecom ele, contava das minhas façanhas de menina, das minhas saudades, de minhas tristezas), mas não tivetempo... Nesse instante foi que pensei que nunca o tinha tocado...o mais próximo que houvera conseguido fora aquele quase roçar de asas. E assim ele alçou um lindo voo em direçãoao horizonte.  
Sentiaslágrimasrolarem, maselas desembocaram em lábios que sorriam. Senti que pela primeira vez desde que oconheceraqueele estava feliz. Fiquei algum tempo ali entre as fruteiras, sentindo umapresençaque hoje sei, seria minha companheira pro resto da vida: A solidão. Entãoaconteceu algo inusitado. Ouvi um canto de rouxinol, junto a mim. Procurei e o encontrei entre os galhos dajabuticabeira, ele viera se despedir. Dei-lhe adeus e ele se foi, pra sempre. Em casa, transformei a gaiola numa casinha de bonecas. Não quereria que servisse deprisãopra mais outro ser.  Ah, adifícilepoéticaarte do deixar partir, do desapegar-se, do desamar! 
 Ainda hoje pratico essa arte, vez em quando um rouxinol me aparece, ou uma pandorga.  
O ego quer que fique, a vaidadetambém.  
Mas o amor, esse diz:  
Deixair...Se voltar é porque você lhe pertence e ele a ti.  Atéhoje nunca voltaram... 
 
 PiáMontenegro(Anamélcia Tavares)