Recordar é viver ou Sofrer?
J. Norinaldo.
Para quem gosta de escrever, o
que não significa escrever bem, mas gosta e com as facilidades de hoje então.
Sento em frente a minha mesa e uma folha de papel roda rasurada se encontra em
frente a uma caixa de som cuja luz ilumina e destaca dois nomes: Teoodore Roosevelt
e Dustim Hoffman. Olhei e pensei o que Theodore Roosevelt estava fazendo ali
esquecido num canto da minha mesa, tentei lembrar-me de algo que escrevi sobre
ele, nada, pensei que foi ele que disse que o símbolo dos Estados Unidos teria
que ser um Urso e não uma Águia, nem sei se realmente foi ele que disse isto,
mas como não falou comigo, não sou obrigado a me lembrar; já o segundo, esse
sim, me traz muitas recordações e até hoje quando ouço Mrs Robson sinto um
ferroado no coração. Tinha 21 anos de idade quando assisti ao filme “A Primeira
noite de um Homem”. 1968 eu cursava para cabo Fuzileiro Naval, assisti ao filme
num grande cinema em Botafogo RS, além da música como citei até hoje me toca
muito algo ocorreu que jamais esquecerei. Sai do cinema e entrei num grande bar
que não recordo o Nemo, tinha um enorme balcão em curvas, muitos espelhos
parecia coisa de cinema americano. Sentei-me num banquinho numa curva do balcão
e pedi uma dose de conhaque, que também não lembro a marca tanto anos faz que
não bebo. Lembro da fina taça, acompanhada de um guardanapo impecável, não
muito ao meu costume; comecei a bebericar minha bebida pensando no enredo do
filme. Não demorou muito, sentou não muito próximo uma belíssima moça, e como
assim por encanto, olhou para mim e pensei que sairia correndo, ou pelo menos
procuraria um lugar mais seguro, perguntou-me de repente: O que é isto que está
bebendo? Quase me engasgo, mas respondi conhaque! Ela então. Chamou o garçom e
apontando meu copo pediu a mesma coisa. Chegou mais para perto, e então pensei
logo: uma prostituta, pelo menos muito bonita e muito bem vestida. E ai,
pensando em que? Perguntou de chofre; falei-lhe que pensava sobre o filme que
acabara de ver e ela disse, bem, esse não vai ser um bom tema para
conversarmos, isto é se estiver a fim de conversar comigo, pois pretendo
assistir ao filme e odiaria se me contasse. Mudamos de assunto e pelo que
abordou, tive quase certeza se realmente fosse uma prostituta seria de altíssimo
luxo, o que não constava nas minhas cogitações. Olhei para todos os cantos e
naquele bar enorme, apesar que caia uma fina garoa só nós dois, o garçom e alguém
na cozinha bem distante; lembrei-me de uma antiga e desgastada piada, de que
você deve sentar-se sempre na entrada de um bar, pois tem mulheres que saem de
casa fulas da vida com o marido ou
parceiro e dizem: Vou dar para o primeiro que aparecer. Isto me frustrou um
pouco, porque não havia escolha no momento. Só eu. Final de Papo ou para
encurtar, tomamos mais duas doses de conhaque e ela me convidou para ir ao seu
Apartamento ali perto na Rua Voluntários da Pátria. Eu não acreditava em nada,
parecia que entrara na tela e agora fazia parte do filme com um enredo
diferente, mas a trilha sonora era a mesma. Chama-se Cléia a moça, usava um vestido azul brilhante de
alças um penteado de atriz e cheguei até a pensar que chegara minha hora e por
ser muito feio, Deus me mandara a morte disfarçada de mulher bonita e elegante.
Tive uma noite fantástica, no outro dia fomos a praia, ainda bem que eu tinha
dinheiro suficiente para alguns cocos gelados, mas o short ela me emprestou.
Sai dali na segunda feira ainda escuro, para ir para o quartel, mais feliz que
pinto no lixo já pensando no próximo encontro, como naquela época o telefone,
não era como hoje, eu teria que ir pessoalmente o que para mim não era nenhum sacrifício.
Meus colegas notaram a minha felicidade, perguntavam uma monte de coisas, mas
eu tinha medo de contar e ou acordar ou alguém com olho gordo estragar tudo. Tinha um acampamento
marcado para aquela segunda feira, lá na
Barra da Tijuca, ainda zona rural; ficamos até a sexta feira acampados e pela
primeira vez pensei em desertar da marinha para ir encontra a minha deusa. Não
o Fiz, mas no sábado estava eu em frente ao prédio, não antes de ir a Impecável
Maré Mansa uma loja que vendia a crédito ao pessoal de Marinha e adquirir uma
linda veste, sapados novos, estava nos trinques. Cheguei ao sétimo andar,
tremendo de emoção e não sei mais o que, apertei a campainha e ouvi passos
lentos no tapete já conhecido, meu coração parecia que ia sair pela boca, ainda
bem que por falta de um buquê de flores que a Impecável não vendia, eu vi a
porta se abrir e uma senhora de cabelos tão brancos que pareciam ou eram azuis,
me cumprimentou educadamente e disse:
Pois não! Eu não pirei, ora poderia ser a avó da moça que poderia ou ter saído ou
está dormindo, ou tomando banho quem sabe pensei. Expliquei-lhe que conhecera
uma moça, dei todos os detalhes, no final ela deu um sorriso maroto e eu
gostei, ela então soltou a bomba, parece que escuto até hoje quando por acaso
ouço Mrs. Robson; É minha neta, ela mora na Grécia e viajou para lá na quarta
feira. Não a senhora deve está enganada ou eu me enganei de porta, ou de
prédio, não pode ser. Sim, filho, disse ela, sempre foi brincalhona, deve ter
lhe contado mais uma das suas histórias, ela é casada com um jovem engenheiro
grego há 5 anos, deve voltar por aqui daqui a uns cinco anos novamente. Sai
dali sem ver nada, entrei no primeiro boteco e ao invés de conhaque agora foi
cachaça mesmo, quando acordei, estava
sentado no chão, em frente a uma Padaria cujo nome era Rio Lisboeta, quem morou
no Leblon nessa época deve se lembrar, se é que ainda não existe. Voltei para o
quartel, e todos notaram a minha infelicidade, fique sem sair por quase 40
dias. Outro dia ia saindo do Santander aqui em minha cidade e quase tenho outro
infarto, vi alguém, que claro não era ela, mas nunca vi ninguém tão parecida,
esta quase saiu correndo pela maneira que a olhei. Depois fiquei no carro rindo
para não chorar.