sábado, 4 de abril de 2015







Recordar é viver ou Sofrer?
J. Norinaldo.


Para quem gosta de escrever, o que não significa escrever bem, mas gosta e com as facilidades de hoje então. Sento em frente a minha mesa e uma folha de papel roda rasurada se encontra em frente a uma caixa de som cuja luz ilumina e destaca dois nomes: Teoodore Roosevelt e Dustim Hoffman. Olhei e pensei o que Theodore Roosevelt estava fazendo ali esquecido num canto da minha mesa, tentei lembrar-me de algo que escrevi sobre ele, nada, pensei que foi ele que disse que o símbolo dos Estados Unidos teria que ser um Urso e não uma Águia, nem sei se realmente foi ele que disse isto, mas como não falou comigo, não sou obrigado a me lembrar; já o segundo, esse sim, me traz muitas recordações e até hoje quando ouço Mrs Robson sinto um ferroado no coração. Tinha 21 anos de idade quando assisti ao filme “A Primeira noite de um Homem”. 1968 eu cursava para cabo Fuzileiro Naval, assisti ao filme num grande cinema em Botafogo RS, além da música como citei até hoje me toca muito algo ocorreu que jamais esquecerei. Sai do cinema e entrei num grande bar que não recordo o Nemo, tinha um enorme balcão em curvas, muitos espelhos parecia coisa de cinema americano. Sentei-me num banquinho numa curva do balcão e pedi uma dose de conhaque, que também não lembro a marca tanto anos faz que não bebo. Lembro da fina taça, acompanhada de um guardanapo impecável, não muito ao meu costume; comecei a bebericar minha bebida pensando no enredo do filme. Não demorou muito, sentou não muito próximo uma belíssima moça, e como assim por encanto, olhou para mim e pensei que sairia correndo, ou pelo menos procuraria um lugar mais seguro, perguntou-me de repente: O que é isto que está bebendo? Quase me engasgo, mas respondi conhaque! Ela então. Chamou o garçom e apontando meu copo pediu a mesma coisa. Chegou mais para perto, e então pensei logo: uma prostituta, pelo menos muito bonita e muito bem vestida. E ai, pensando em que? Perguntou de chofre; falei-lhe que pensava sobre o filme que acabara de ver e  ela disse, bem, esse não vai ser um bom tema para conversarmos, isto é se estiver a fim de conversar comigo, pois pretendo assistir ao filme e odiaria se me contasse. Mudamos de assunto e pelo que abordou, tive quase certeza se realmente fosse uma prostituta seria de altíssimo luxo, o que não constava nas minhas cogitações. Olhei para todos os cantos e naquele bar enorme, apesar que caia uma fina garoa só nós dois, o garçom e alguém na cozinha bem distante; lembrei-me de uma antiga e desgastada piada, de que você deve sentar-se sempre na entrada de um bar, pois tem mulheres que saem de casa fulas da vida com o marido  ou parceiro e dizem: Vou dar para o primeiro que aparecer. Isto me frustrou um pouco, porque não havia escolha no momento. Só eu. Final de Papo ou para encurtar, tomamos mais duas doses de conhaque e ela me convidou para ir ao seu Apartamento ali perto na Rua Voluntários da Pátria. Eu não acreditava em nada, parecia que entrara na tela e agora fazia parte do filme com um enredo diferente, mas a trilha sonora era a mesma. Chama-se Cléia  a moça, usava um vestido azul brilhante de alças um penteado de atriz e cheguei até a pensar que chegara minha hora e por ser muito feio, Deus me mandara a morte disfarçada de mulher bonita e elegante. Tive uma noite fantástica, no outro dia fomos a praia, ainda bem que eu tinha dinheiro suficiente para alguns cocos gelados, mas o short ela me emprestou. Sai dali na segunda feira ainda escuro, para ir para o quartel, mais feliz que pinto no lixo já pensando no próximo encontro, como naquela época o telefone, não era como hoje, eu teria que ir pessoalmente o que para mim não era nenhum sacrifício. Meus colegas notaram a minha felicidade, perguntavam uma monte de coisas, mas eu tinha medo de contar e ou acordar ou alguém com olho  gordo estragar tudo. Tinha um acampamento marcado para aquela segunda feira, lá  na Barra da Tijuca, ainda zona rural; ficamos até a sexta feira acampados e pela primeira vez pensei em desertar da marinha para ir encontra a minha deusa. Não o Fiz, mas no sábado estava eu em frente ao prédio, não antes de ir a Impecável Maré Mansa uma loja que vendia a crédito ao pessoal de Marinha e adquirir uma linda veste, sapados novos, estava nos trinques. Cheguei ao sétimo andar, tremendo de emoção e não sei mais o que, apertei a campainha e ouvi passos lentos no tapete já conhecido, meu coração parecia que ia sair pela boca, ainda bem que por falta de um buquê de flores que a Impecável não vendia, eu vi a porta se abrir e uma senhora de cabelos tão brancos que pareciam ou eram azuis, me cumprimentou educadamente  e disse: Pois não! Eu não pirei, ora poderia ser a avó da moça que poderia ou ter saído ou está dormindo, ou tomando banho quem sabe pensei. Expliquei-lhe que conhecera uma moça, dei todos os detalhes, no final ela deu um sorriso maroto e eu gostei, ela então soltou a bomba, parece que escuto até hoje quando por acaso ouço Mrs. Robson; É minha neta, ela mora na Grécia e viajou para lá na quarta feira. Não a senhora deve está enganada ou eu me enganei de porta, ou de prédio, não pode ser. Sim, filho, disse ela, sempre foi brincalhona, deve ter lhe contado mais uma das suas histórias, ela é casada com um jovem engenheiro grego há 5 anos, deve voltar por aqui daqui a uns cinco anos novamente. Sai dali sem ver nada, entrei no primeiro boteco e ao invés de conhaque agora foi cachaça  mesmo, quando acordei, estava sentado no chão, em frente a uma Padaria cujo nome era Rio Lisboeta, quem morou no Leblon nessa época deve se lembrar, se é que ainda não existe. Voltei para o quartel, e todos notaram a minha infelicidade, fique sem sair por quase 40 dias. Outro dia ia saindo do Santander aqui em minha cidade e quase tenho outro infarto, vi alguém, que claro não era ela, mas nunca vi ninguém tão parecida, esta quase saiu correndo pela maneira que a olhei. Depois fiquei no carro rindo para não chorar.