A Pedra Filosofal.
J. Norinaldo.
Estava numa fila quando alguém me
tocou as costas e disse amigavelmente: Se o Sr. Quiser pode ir lá na frente, já
que não tem uma fila especial para os idosos. Agradeci não me senti muito bem,
mas continuei ali e de repente me veios a cabeça uma outra fila. Encontrava-me
na fila para comprar ingresso apara assistir a matinê no Cine Idelmar de Colatina
ES, lembro-me do filme exibido “Meu Melhor Companheiro” a história de um menino
e um cachorro, passara dias pensando no mesmo, toda vez que passava em frente
ao belo prédio do cinema, construído para ser o que era, ficava alguns minutos
olhando o cartaz. Muito bem, fila grande, a meninada trocando Gibis e muita
conversa, sobre o filme ou outras amenidades; eu quieto, tenso, pois de repente
a fila emperrava, alguém dava uma nota de maior valor e parecia uma eternidade
o próximo passo. Em fim cheguei a bendita janelinha tão minha conhecida,
coloquei ali a minha nota, a única de cinco Cruzeiros e esperei um de troco
acompanhado de um chiclete Adams; nada, levantei a cabeça e vi o senhor que não
era o de sempre com a mão estendida na minha direção; o que foi? Perguntei.
Você já paga inteira. Mas sempre paguei meia, tenho apenas 14 anos, não era
tinha 15 quase 16, ainda antes de ontem vim ao cinema e paguei meia entrada.
Não adiantou, o homem me devolveu meu dinheiro, grande dinheiro, ainda suportei
o risinho sarcástico de algumas meninas atrás de mim, e quase um empurrão do
rapaz que esta com uma moça linda que disse: Vamos, a fila tem que andar, ou
paga ou cai fora. Sai dali arrasado, não só pelo fato de perder o sonhado
filme,ou ter que assisti-lo depois e meus colegas me contarem tudo, era sempre
assim, pelo fato de não ter dinheiro, depender de outros até para ir ao cinema;
quantos garotos da minha idade tinham namoradas, e é claro eles é que pagavam
os ingressos, a pipoca, o sorvete, porta, com quase 15 e sem condições de ir
sozinho ao cinema. Fiz uma promessa a mim mesmo ali naquele momento: Quando
tivesse condições de eu mesmo pagar minhas despesas, assistiria todos os filmes
que existissem no mundo. Promessa não cumprida, hoje, que já tenho direito a
uma fila especial, pago as minhas despesas, tenho um cinema dentro de casa e
mais uma locadora onde posso escolher o filme que quero; para-lo para discutir
com o jovem com a namorada bonita que me mandou cair fora da fila; dizer para o
careca que me estendeu a mão pedindo mais dinheiro para enfiar o cinema dele onde
bem quiser; pois é, dificilmente assisto a um filme e estou sempre me flagrando
sonhando em pagar meia entrada novamente; vá me entender não...
Será que a felicidade é igual
aquela fábula do homem que procurava a Pedra Filosofa? Caminhou anos pelas
estradas apanhando pequenos seixos e batia com ela na fivela do cinto,
aguardava um pouco, não virava ouro ele então atirava a pedra longe; assim foi
por muito tempo, até que um belo dia, quando repetia pela milionésima vez o
gesto para sua grande surpresa sua fivela era ouro puro. E agora, como saber
qual foi a pedra usada? Ou seja: Eu fui feliz e não sabia, será que vale a
pena???? Ou a maior desgraça ainda é dizer: Eu fui Feliz?