segunda-feira, 19 de junho de 2017




Como Voltar a Fita?.
J. Nori.


Caminhava lentamente já sem admirar a beleza daquela avenida tão famosa, não por falta de visão, mas o cansaço e a dor nas pernas tiravam toda a vontade ao prazer, olhava para o chão como se fosse o Dominó da vida,  parei, olhei a frente, faltava mais de meio quarteirão para o farol, onde dobraria a esquerda e procuraria pelo número 8854. Não encontrando um batente para sentar-me, encostei-me na parede de um velho prédio ao rés do chão, úmida e fria. A manga do casaco rota e corroída, dispensava explicação pelo caminhar assim cansado e a relutância por não aceitar uma bengala, somente por não precisar de óculos. Olhei para uma moça sorridente num cartaz de uma Farmácia, propaganda de um creme dental e pensei porque uma saia tão curta, se o objetivo eram os dentes, simples pensamentos alheatórios, enquanto reabastecia o velho corpo com um descanso escorado a outro velho, cujo limo já surgia por todo lado. Em fim reiniciei a marcha, quando cheguei no farol esse mudou para vermelho, não o atendi e dobrei seguindo a marcha, animado fiquei ao ver o número 8004, caminharia muito menos do que antes, e para minha felicidade a rua era uma pequena ladeira. Cheguei ao número desejado, um prédio baixo de tijolos a vista, uma escada de incêndio como tantas outras, enferrujada parecia dar a entonação da cor de todo prédio; entrei em elevador antigo e apertei o o quinto e último andar; assim que elevador parou, esperei a porta abrir, caminhei a minha direita e logo vi a porta com o número 503, apertei a campainha e aguardei, não ouvi passos do outro lado, mas de repente a maçaneta se move a porte se entreabre e vejo aquele sorriso; seria o mesmo? O mesmo de quando corríamos por aquela avenida em que passara agora, corríamos até o Parque que fica a 12 quarteirões dali? Seria? Não fazia frio, mas agora sabia porque não ouvira passos, um grosso e macio tapete tomava toda sala do aconchegante apartamento, e ela se vestia como se lá fora nevasse. Uma saudade de tudo fez nevar na minha vida, principalmente ao notar que luxo daquela sala não combinava com a manga poida do meu casaco. Também sorri e consegui dizer: Não! Estava passando e resolvi te ver...Afinal até parece que foi ontem que te vi.

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