segunda-feira, 4 de maio de 2015




Uma história de beleza muito triste.
J. Norinaldo



Faz uns 40 anos, eu era solteiro e morava num quarto onde moravam outros fuzileiros, ao lado morava uma mulher muito bonita, mas dessas bonitas que dificilmente passam despercebidas e não geram comentários. Um sábado pela manhã coloquei uma cadeira na porta do quarto para tomar sol, quando que dava para a porta dos fundos da sua casa, quando de repente ela sai vestindo chambre de azul belíssimo com um belo dragão pintado as costas, um toalha na cabeça, sentou-se de frente para mim, uma distancia de 20 metros talvez, levantou a perna, e que perna, colocando-a sobre um banquinho e baixou a cabeça para lixar as unhas dos pés é claro. A visão do paraíso. Fiquei sem saber o que fazer, sair dali poderia pegar muito, pensei nisto, mas desisti. Resisti até o fim, tendo momentos que ao trocar de pernas no banquinho mostrava a peça mínima, que mesmo não sendo tão mínima como hoje, não haveria necessidade. Não sabia seu nome, nunca me interessei, até por que tinha certeza que era muita areia para o meu caminhãozinho, que além de ser apenas cabo fuzileiro, nunca bati bem de feições. Um dia 31 de dezembro, por volta de 22;h00, resolvi sair sozinho para tomar uns tragos e encontrar alguns amigos, não tinha namorada só amigas; antes tomei uma bela talagada de uma que sempre tinha no quarto. Não andei 100 metros e senti que um pneu havia furado, desci e fui pegar o estepe e para minha sorte este estava vazio. Voltei, sentei-me no banco e encostei a cabeça no volante do fusca sem atina com o que fazer, com a paciência que tenho e conheço bem tentando me controlar para não atear fogo num carro novo. De repente sinto uma mão em minha cabeça e uma voz doce como mel: O que  houve? Está sem estepe? Levantei a cabeça e pensei: que merda, tive um enfarto e morri logo hoje, nunca pensei que fosse assim! Ela insistiu, vamos lá a minha casa que telefono para um taxi e ele vem buscar o pneu leva numa borracharia e traz rapidinho, vamos lá. Desci ainda  aturdido talvez pela morte repentina e segui aquela coisa que não será uma mulher, quase 1,80, busto farto, cintura ei fina, e as pernas... Não vou dizer com era decorada sua sala pois seria o mesmo que dizer de quem estou falando, para encurtar o papo, o taxi veio, levou os pneus, ela mesma pagou, e ai me convidou para dar umas voltas. Ai foi a vez de o morto ressuscitar e lembrar que tinha apenas 62 cruzeiros novos naquela época, sei que não dava para nada; abri o jogo e ela rindo disse: Não te preocupa com isto.  Estivemos num Barzinho famoso na praça, tomamos alguns Whisky, fomos a duas boates, ela não gostou do ambiente, e me convidou para ir a sua casa. Eu estava adora a morte.  No outro dia de madrugada, atravessei uma cerca e voltei ao meu muquifo. Saímos mais algumas vezes um um dia eu já era casado, estava na Casa di Itália com a minha mulher, quando esta me cutucou e disse: olha a beleza dessa morena! Meu coração quase saiu pela boca, minha mulher notou porque perguntou se eu estava bem, eu disse que sim e sai para fumar. A rainha estava acompanhada de um senhor de meia idade muito elegante. Muito anos depois, voltei a cidade da princesa e uma amigo que era diretor da CEEE me convidou para dar uma volta, fazia bastante frio e fomos para num cabaré, naquele tempo havia isto, hoje as meninas fazem de graça. Lá conversa vai conversa vem, fui apresentado como engenheiro, e uma menina muito bonitinha, acho que tinha algo com esse tipo de profissional se encarnou em mim; tomávamos uma cerveja quando me veio a cabeça da deusa da frente do meu quarto. Perguntei a dona da casa que já tinha bastante idade, faleceu faz pouco tempo pela minha deusa e ela me perguntou duas ou três vezes se ela aquela que morava em tal lugar que era amante do fulano, isto eu não sabia, mas lugar eu tinha certeza. Então veio a bomba que quase me matou realmente deste vez. Ela anda para cima e para baixo por tal lugar, quase sempre urinada e as vezes até defecada, sempre com uma garrafa de pinga; tem um corte  no rosto da testa até o queixo que nunca sarou, está sempre purgando. Aconselho-o a não querer vê-la, aliás, faz um bom tempo que não a vejo, se não a internaram já morreu. Ainda tentei mais uma vez descrever tudo que sabia para ver se havia engano. Nada. Tudo batia direitinho, era ela. Bem podia ser, mas eu não consegui acreditar, convidei meu amigo para voltarmos, não consegui dormir aquela noite, e em muito demorei a conciliar o sono pensando no que representamos neste mundo. Não procurei mais saber nada a respeito dessa mulher  mas aprendi uma grande e triste lição: A vida nos dá a direção, o caminho quem faz somos nós.

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