Uma história de beleza muito triste.
J. Norinaldo
Faz uns 40 anos, eu era solteiro e morava num quarto onde
moravam outros fuzileiros, ao lado morava uma mulher muito bonita, mas dessas
bonitas que dificilmente passam despercebidas e não geram comentários. Um
sábado pela manhã coloquei uma cadeira na porta do quarto para tomar sol,
quando que dava para a porta dos fundos da sua casa, quando de repente ela sai
vestindo chambre de azul belíssimo com um belo dragão pintado as costas, um
toalha na cabeça, sentou-se de frente para mim, uma distancia de 20 metros
talvez, levantou a perna, e que perna, colocando-a sobre um banquinho e baixou
a cabeça para lixar as unhas dos pés é claro. A visão do paraíso. Fiquei sem
saber o que fazer, sair dali poderia pegar muito, pensei nisto, mas desisti. Resisti
até o fim, tendo momentos que ao trocar de pernas no banquinho mostrava a peça
mínima, que mesmo não sendo tão mínima como hoje, não haveria necessidade. Não
sabia seu nome, nunca me interessei, até por que tinha certeza que era muita
areia para o meu caminhãozinho, que além de ser apenas cabo fuzileiro, nunca
bati bem de feições. Um dia 31 de dezembro, por volta de 22;h00, resolvi sair
sozinho para tomar uns tragos e encontrar alguns amigos, não tinha namorada só
amigas; antes tomei uma bela talagada de uma que sempre tinha no quarto. Não andei
100 metros e senti que um pneu havia furado, desci e fui pegar o estepe e para
minha sorte este estava vazio. Voltei, sentei-me no banco e encostei a cabeça
no volante do fusca sem atina com o que fazer, com a paciência que tenho e
conheço bem tentando me controlar para não atear fogo num carro novo. De
repente sinto uma mão em minha cabeça e uma voz doce como mel: O que houve? Está sem estepe? Levantei a cabeça e
pensei: que merda, tive um enfarto e morri logo hoje, nunca pensei que fosse
assim! Ela insistiu, vamos lá a minha casa que telefono para um taxi e ele vem
buscar o pneu leva numa borracharia e traz rapidinho, vamos lá. Desci
ainda aturdido talvez pela morte
repentina e segui aquela coisa que não será uma mulher, quase 1,80, busto
farto, cintura ei fina, e as pernas... Não vou dizer com era decorada sua sala
pois seria o mesmo que dizer de quem estou falando, para encurtar o papo, o
taxi veio, levou os pneus, ela mesma pagou, e ai me convidou para dar umas
voltas. Ai foi a vez de o morto ressuscitar e lembrar que tinha apenas 62
cruzeiros novos naquela época, sei que não dava para nada; abri o jogo e ela
rindo disse: Não te preocupa com isto.
Estivemos num Barzinho famoso na praça, tomamos alguns Whisky, fomos a
duas boates, ela não gostou do ambiente, e me convidou para ir a sua casa. Eu estava
adora a morte. No outro dia de
madrugada, atravessei uma cerca e voltei ao meu muquifo. Saímos mais algumas
vezes um um dia eu já era casado, estava na Casa di Itália com a minha mulher,
quando esta me cutucou e disse: olha a beleza dessa morena! Meu coração quase
saiu pela boca, minha mulher notou porque perguntou se eu estava bem, eu disse
que sim e sai para fumar. A rainha estava acompanhada de um senhor de meia
idade muito elegante. Muito anos depois, voltei a cidade da princesa e uma
amigo que era diretor da CEEE me convidou para dar uma volta, fazia bastante
frio e fomos para num cabaré, naquele tempo havia isto, hoje as meninas fazem
de graça. Lá conversa vai conversa vem, fui apresentado como engenheiro, e uma
menina muito bonitinha, acho que tinha algo com esse tipo de profissional se
encarnou em mim; tomávamos uma cerveja quando me veio a cabeça da deusa da
frente do meu quarto. Perguntei a dona da casa que já tinha bastante idade,
faleceu faz pouco tempo pela minha deusa e ela me perguntou duas ou três vezes
se ela aquela que morava em tal lugar que era amante do fulano, isto eu não
sabia, mas lugar eu tinha certeza. Então veio a bomba que quase me matou
realmente deste vez. Ela anda para cima e para baixo por tal lugar, quase
sempre urinada e as vezes até defecada, sempre com uma garrafa de pinga; tem um
corte no rosto da testa até o queixo que
nunca sarou, está sempre purgando. Aconselho-o a não querer vê-la, aliás, faz
um bom tempo que não a vejo, se não a internaram já morreu. Ainda tentei mais
uma vez descrever tudo que sabia para ver se havia engano. Nada. Tudo batia
direitinho, era ela. Bem podia ser, mas eu não consegui acreditar, convidei meu
amigo para voltarmos, não consegui dormir aquela noite, e em muito demorei a conciliar
o sono pensando no que representamos neste mundo. Não procurei mais saber nada
a respeito dessa mulher mas aprendi uma
grande e triste lição: A vida nos dá a direção, o caminho quem faz somos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário