domingo, 8 de maio de 2016


HOJE EU NÃO VOU CHARAR.

J. Norinaldo

Hoje eu prometi a mim mesmo que não choraria, hoje é o Dia das mães, é dia de alegria, de dar e receber abraços carinhosos, de sorrir ao lembrar das chineladas e dos carões, das vergonhas na frente da meninas por ter cometido alguma desobediência ou mal feito. Não, não chorarei garanti a mim mesmo e cumpri até agora; mas sinceramente não sou tão forte o quanto penso. Lembrei-me e senti saudades dos medos que sentia quando chegava em casa fora de hora, ou quando tinha certeza que a vara de marmelo assoviaria nos meus ouvidos e arderia no lombo, pela certeza do mal feito cometido e já tendo, já julgado e condenado e sem direito a recursos; senti saudades das dores causadas pelo contato violento da vara de marmelo ou qualquer outra contra o corpo frágil, mas de mente ativa e criativa que não fazia quase nada certo. Senti saudades das vezes que pensei em colher uma flor  e lhe entregar, mas não fiz; senti saudades até de nunca tê-la conhecido de verdade, pois como é claro, cheguei a vê-la, porem com nove meses de vida é impossível se guardar a imagem de alguém. Sozinho, porque não quis arrastar minha esposa  para o poço da solidão em que me encontro, o dia inteiro de pijama, um pijama que calhou muito bem com o momento, escolhido por ser quente e aconchegante, não foi reparado na hora que mais parece a roupa de um presidiário. Recebi cedo a visita de um velho amigo que não minha tristeza, apenas perguntou: Estás indo ou vindo do presídio. Sorris e não disse nada, mas pensei: Estou nele, no presídio do meu próprio eu. Depois até nem sei porque, peguei o meu Passaporte e lhe exibi o Visto americano e ele me perguntou: Deves está muito feliz de realizar um sonho; e mais uma vez pensei: estaria muito mais se na minha lista constasse algo para alguém que não me quis ou não pode me levar para onde foi na dúvida se não era melhor deixar-me. E com quem fiquei e chamei de Mãe enquanto pude, também faz alguns anos, após visita-la em Pernambuco, me ligou por volta das 15:00h, disse-me que tinha algo a me dizer, mas esquecera, ficava para outra vez; horas depois novo telefonema, imaginei que lembrara do que havia esquecido, mas não, era a triste notícia que havia partido para sempre. Como me segurar e não chorar? Caso venha a ler esse meu desabafo, e tenha sua mãe,  fique triste valorize-a cada vez mais a cada segundo, se não tiver mais, chore, não banque o durão ou o idiota, não tenha vergonha de chorar. Se estivesse perto não lhe levaria flores hoje, tive tantas chances de dar-lhes em vida e não dei. Se Deus e a América permitir, estarei feliz sim ao realizar o sonho de conhecer New York, mas com certeza lá chorarei também, como chorei quando ela conseguiu dois cruzeiros, costurando numa máquina de mesa que trocara por uma porquinha de brincos que eu gostava muito; no início odiava aquela máquina, mas dela que surgiu o dinheiro para eu ir ao Cine Santo Antônio em Cachoeirinha, lembro-me até que sentei no oitava fileira do lado direito na eira cadeira; o filme não lembro mais, mas lembro que chorei, ao não vê-la do meu lado. Morreu com mais de oitenta anos e talvez nunca tenha ido a um cinema. Ainda bem que isto é bem grande e desinteressante, tomara que ninguém leia; as vezes, escrevo para mim mesmo. Dizem que chorar faz bem. A quem? E o que faria sorrir?

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