HOJE EU NÃO VOU CHARAR.
J. Norinaldo
Hoje eu prometi a mim mesmo que
não choraria, hoje é o Dia das mães, é dia de alegria, de dar e receber abraços
carinhosos, de sorrir ao lembrar das chineladas e dos carões, das vergonhas na
frente da meninas por ter cometido alguma desobediência ou mal feito. Não, não
chorarei garanti a mim mesmo e cumpri até agora; mas sinceramente não sou tão
forte o quanto penso. Lembrei-me e senti saudades dos medos que sentia quando
chegava em casa fora de hora, ou quando tinha certeza que a vara de marmelo
assoviaria nos meus ouvidos e arderia no lombo, pela certeza do mal feito
cometido e já tendo, já julgado e condenado e sem direito a recursos; senti
saudades das dores causadas pelo contato violento da vara de marmelo ou
qualquer outra contra o corpo frágil, mas de mente ativa e criativa que não
fazia quase nada certo. Senti saudades das vezes que pensei em colher uma
flor e lhe entregar, mas não fiz; senti
saudades até de nunca tê-la conhecido de verdade, pois como é claro, cheguei a
vê-la, porem com nove meses de vida é impossível se guardar a imagem de alguém.
Sozinho, porque não quis arrastar minha esposa
para o poço da solidão em que me encontro, o dia inteiro de pijama, um
pijama que calhou muito bem com o momento, escolhido por ser quente e
aconchegante, não foi reparado na hora que mais parece a roupa de um
presidiário. Recebi cedo a visita de um velho amigo que não minha tristeza,
apenas perguntou: Estás indo ou vindo do presídio. Sorris e não disse nada, mas
pensei: Estou nele, no presídio do meu próprio eu. Depois até nem sei porque, peguei
o meu Passaporte e lhe exibi o Visto americano e ele me perguntou: Deves está
muito feliz de realizar um sonho; e mais uma vez pensei: estaria muito mais se
na minha lista constasse algo para alguém que não me quis ou não pode me levar
para onde foi na dúvida se não era melhor deixar-me. E com quem fiquei e chamei
de Mãe enquanto pude, também faz alguns anos, após visita-la em Pernambuco, me
ligou por volta das 15:00h, disse-me que tinha algo a me dizer, mas esquecera,
ficava para outra vez; horas depois novo telefonema, imaginei que lembrara do
que havia esquecido, mas não, era a triste notícia que havia partido para
sempre. Como me segurar e não chorar? Caso venha a ler esse meu desabafo, e
tenha sua mãe, fique triste valorize-a
cada vez mais a cada segundo, se não tiver mais, chore, não banque o durão ou o
idiota, não tenha vergonha de chorar. Se estivesse perto não lhe levaria flores
hoje, tive tantas chances de dar-lhes em vida e não dei. Se Deus e a América permitir,
estarei feliz sim ao realizar o sonho de conhecer New York, mas com certeza lá
chorarei também, como chorei quando ela conseguiu dois cruzeiros, costurando
numa máquina de mesa que trocara por uma porquinha de brincos que eu gostava
muito; no início odiava aquela máquina, mas dela que surgiu o dinheiro para eu
ir ao Cine Santo Antônio em Cachoeirinha, lembro-me até que sentei no oitava
fileira do lado direito na eira cadeira; o filme não lembro mais, mas lembro
que chorei, ao não vê-la do meu lado. Morreu com mais de oitenta anos e talvez
nunca tenha ido a um cinema. Ainda bem que isto é bem grande e desinteressante,
tomara que ninguém leia; as vezes, escrevo para mim mesmo. Dizem que chorar faz
bem. A quem? E o que faria sorrir?
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