sexta-feira, 21 de dezembro de 2012




Os Dragões da Minha Infância.
J. Norinaldo.


Quando eu era criança, morava num casebre muito pobre, havia em minha casa um velho armário de madeira que servia como guarda roupa e dispensa ao mesmo tempo; da minha rude cama eu observava todas as noite até a hora em que as lamparinas a querosene eram apagadas em cima deste velho armário uma caixa de chapéu. Era bem feita, arredondada e tinha dos lados alguns ingleses vestidos para caça a raposa, montando belos cavalos e tendo belos cães a sua frente; vim saber que era a famosa caça a raposa muitos anos depois. Aquele cenário foi para mim durante um longo período, como a Caverna de Platão, aquelas figuras estranhas, vestindo roupas muito justa e com estranhos chapéus povoaram meu imaginário salpicando-o de também estranhas estórias que nada tinha com seu verdadeiro objetivo, caçar raposa. Consegui no Google, exatamente a caixa que havia há tantos anos em cima daquele velho armário. Muitas vezes eu sonhava acordado que era um daqueles elegantes caneleiros e que ganhava todas as corridas para impressionar a menina que amava, mas que dificilmente falava comigo na escola, além de muito bonita era uma das mais ricas do lugar onde eu vivia, mesmo assim também fazia parte das figuras da minha Caverna de Platão.
Hoje, quase ninguém mais usa chapéu, e estes já não vem em caixas como aquela, ou esta que mostro logo acima ou logo abaixo, lembro-me bem que tanto os meus amigos da vila montavam cavalos que tinham nome, assim como os cães que eu não fazia a menor ideia do que faziam no meu sonho, só sei que na verdade nunca esqueci aquela caixa de papelão e meus heróis. Confesso que fiquei um tanto decepcionado quando descobri a verdade sobre eles, achei uma aventura um tanto sem graça, vestir roupas tão bonitas, montar cavalos tão belos para sair correndo atrás de uma raposa, mas isto já foi bem depois, depois até de pisar a terra onde pretensamente corriam aqueles homens em cima do velho e pobre armário.
Assim como meus amigos da caixa de chapéu, certo dia acordei e descobri que meus amigos imaginários também não existiam, e que eu deveria deixar para sonhar enquanto dormisse, pensei que seria fácil viver sem eles, não foi, e continua não sendo até hoje, alias eles ainda estão comigo, só não posso é revê-los sem correr o risco de ganhar uma camisa de força. Tenho sim, saudades dos cavaleiros elegantes da minha caixa de chapéu, e muito orgulho de ainda me juntar com meus amigos imaginários, às vezes lembro suas feições, as vezes não, mas isto pouco importa, o que me importa mesmo é que aquele menino que sonhava com o cavalo da frente da caixa de papel, ainda está comigo, e comigo viverá até o fim. E por sinal é bom ressaltar que a corrida continua pela ponta, jamais para caçar o que quer que seja, e o mais interessante, passa o tempo,mas ninguém me passa nessa corrida. Ah! Como é bom sonhar, no sonho você é o que quer ser; portanto nunca deixe de sonhar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário