quinta-feira, 26 de março de 2015


Hoje És apenas Saudade e...
J. Norinaldo.



Hoje estive olhando por um tempo demorado uma velha foto em preto em brando de um amigo com quem costumava conversar, tinha um pequeno restaurante e eu lá quase sempre estava tomando um trago, coisa que há muito não faço e entabulando uma boa conversa. Era bem mais velho que eu, gostava de ler livrinhos de bolso de Faroeste; na maioria das vezes atendia seu estabelecimento vestindo calças negras bem vincadas e camisas brancas impecáveis com uma liga preta no ate braço esquerdo, ficava muito ancho quando o comparava com um bancário do velho este americano.  Hoje é apenas saudade. O que significa ser apenas saudade? Você já pensou que um dia essa é a única certeza que terá nessa vida é que será apenas saudade, se for? Dias atrás estive num cemitério, e como faço sempre caminho pelas estreitas ruas, lendo epitáfios e vendo fotos, e dando tratos a bola justamente sobre este assunto aqui agora aventado. Cheguei a um estranho e feio local, a um ossuário, muitos crânios, tíbias, braços costelas, em fim ossos humanos e pensei olhando na direção de um aglomerado que efetuava um enterro. Mulheres bonitas, uma em especial chamava a atenção pela beleza, o porte de princesa, a maneira de se impor; olhei novamente para o ossuário; será que aquela moça e tantas outras que hoje vivem entre nós, imaginam que um dia serão apenas saudades ou parte de um amontoado de ossos, por vezes fétidos, e que alguém que daria tudo na vida para ter de si um abraço, um beijo, um carinho, ou mesmo tê-la nos braços fazendo amor, e que isto significaria o paraíso na terra; agora, precisaria de máscaras e luvas se tivesse que tocá-la, e que muito pelo contrário do momento anterior aqui citado, quando procuraria não lavar as mãos ou o corpo para não perder seu perfume; ora já teria pronto algum tipo poderoso de desinfetante para uma total assepsia? O que somos nós para sermos tão orgulhosos e soberbos? O que nos dá  a alguém esse direito tendo esta total certeza de um futuro sem escape? Qual a diferença ou o cheiro da ossada daquela moça que vejo com tanta beleza, apesar dos olhos tristes no momento, para essas a que olho agora? Seria cheiro, odor, ou fedor ou fetidez? Só a saudade não tem cheiro, e será que alguém já se perguntou o tempo que dura o perfume das pétalas de rosas que enfeitam, ou cobrem aquele que acaba de tornar tristes os belos olhos da jovem supracitada, depois que o último tijolo for colocado? Dou mais uma olhada em direção a jovem que começa a se afastar com um lindo modo de andar, enquanto começa cair uma fina garoa, dou mais uma olhada para os ossos e também meu vou, inclinando a cabeça com quem diz: Até um dia... Não só para mim que sou feio e também não devo andar muito elegante, mas para todos, sem exceção, belos ou feios, banqueiros e bancários, capitães e corsários, todos sem exceção; hoje soberba, orgulho, ostentação, assédio, amor e carinho. Um dia, Eu, a Bela, o  banqueiro e o bancário, o capitão e o corsário. Saudade, fetidez  usuários talvez do primeiro ou do mais alto degrau da humildade, que nunca preocupou a maioria da humanidade.  Ainda passei pela frente do túmulo recém-lacrado, um retrato retangular numa moldura de luxo, mostrava uma senhora de idade agora, mas que dava para notar que ostentara certa beleza outrora.

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