terça-feira, 8 de março de 2016



Use como quiser o seu direito ou liberdade, não esqueça, no entanto que ela termina ao começar minha.
J. Norinaldo.


Eu vivi 31 nos no corpo de fuzileiros Navais, Durante este período que não é curto, como tenho uma memória de elefante posso dizer com certeza que por Quatro vezes tive a honra de ouvir a voz de Suas Excelências  Quatros almirantes dirigidas diretamente a mim. A primeira vez servia no Batalhão Riachuelo em 1967, e houve uma mostra de pessoal em uma segunda feira em que cheguei atrasado e não pude escapar e formei em frente à lavandeira com o uniforme que tinha para o dia e não era lá essas coisas, somente um gorro de pala fabricado por um cabo que alguém que ali serviu naquela época vai saber quem é, que realmente era o que se chamava na Marinha de impecável, eu tinha um desses. Quando sua Excelência parou a minha perguntou em voz alta: Seu nome completo e número fixo! Eu também gritando lhe respondi o exigido, ele então disse: Suspende o gorro! Obedeci e ele gritou ao oficial que o seguia com uma prancheta e papel: “Anota o resto”!
 Segunda vez houve um problema confuso em que fui acusado de ter negligenciado meu trabalho como comunicador e tive que me explicar com outro almirante, desta vez me dei muito bem. Terceira vez: Eu trabalhava no mesmo andar que dois almirantes tinham seus gabinetes e seus camarotes, e um deles corria todas as manhãs, e eu saia da minha secção para fumar de dez em dez minutos num canto onde havia um grande cinzeiro feito por um cartucho de projetil de canhão, e um belo dia ele disse em voz alta: Não pode ser coincidência sempre que venha da minha corrida encontrar aqui este sargento fumando; isto causou um tremendo reboliço, não fui preso, mas admoestado veementemente, o tal cinzeiro sumiu do local, não só ele, mas todos da área e eu fui aconselhado a ir fumar no inferno, preferi a lixeira onde o Almirante não passaria nem perto com certeza. A quarta e última, eu saia do antigo Primeiro Distrito RJ e bem na hora tocou o Cerimonial de arriar da Bandeira Nacional, e como militar, mesmo em trajes civis, fiquei na posição de sentido em respeito a um dos nossos maiores símbolos diante do qual jurei defender meu país com o sacrifício da própria vida, quando ao meu lado um senhor de certa idade, também ficou na mesma posição de respeito. Terminado o cerimonial e para minha surpresa, fui reconhecido por um Almirante da Armada que comandara o Sexto distrito Naval e por algumas vezes fui seu rádio operador, e este me perguntou como ficara os prédios que ele iniciara construir na pequena Ladário MS,  aliás o primeiros edifícios da cidade e foi a segunda conversa  que posso chamar de amistosa, uma porque enquanto todos me acusavam de algo que eu não fizera, eu tinha uma Xerox da verdadeira ordem recebida.
Portanto durante 31 anos fardado, não somente um Almirante foi para mim como uma estrela, não aquela que carrega nos ombros, mas uma que faz parte de alguma galáxia, a distancia seria a mesma, mas qualquer outro oficial, pois cheguei a ser chamado de amigo por alguns, um deles a quem considero muito até hoje certa vez me disse: ”Ai daquele que retribuir a amizade que lhe dedico com intimidade”. Será que existe isto? Amizade sem liberdade?

Bem tudo isto para dizer que depois dos meus 31 anos jurados e cumpridos, agora na minha casa, humilde, mas minha, onde sou o comandante ou imediato, pode ser que a patroa venha a ler isto e vou ter que dar explicações, vou querer voluntariamente a visita de Almirantes da reserva que já não são estrelas tão distantes, justamente porque enquanto brilharam na caserna esqueceram que um dia o barco atracaria em algum porto, alguém lhe bateria no ombro e a banda tocaria para ele a Marcha Batida Corina pela última vez? Não! Não mesmo, posso ser antipático ou diferente, mas quero manter a mesma distancia de antes, de preferencia em anos luz; não censuro quem vive lhes mostrando as próteses, não é da minha conta, mas também não aceito que tentem me convencer do contrário. Faria parte de alguma associação de Veteranos onde constam em seu rol estas autoridades, caso frequentasse também o Clube Naval.

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