terça-feira, 14 de dezembro de 2010


A Morte
J. Norinaldo.

A morte em minha opinião, e a defenderei até que alguém me convença do contrario, nada mais é que a vingança de alguém, de quem? Não sei, e às vezes chego a pensar que também não quero saber, nem vir a conhecer esse alguém tão poderoso. Hoje eu vi a morte de perto, minha cadelinha Pitucha, 13 anos dormindo na minha cama, me acordando quando gritava em pesadelos, me fazendo carinhos até quando eu não queria. 13 anos de amor, Amor mesmo, sem nunca reparar se eu era bonito ou feio, se às vezes sua ração mudava de paladar por que eu não tinha dinheiro para comparar uma melhor, ou mesmo quando em seu pratinho achava apenas alguns ossos, nunca demonstrou insatisfação ou revolta.
De repente acorda triste, começa a cair pela sala e se arrastar atrás de mim, mesmo sem recursos no momento, fiz de tudo, quase o impossível para salvar minha amiga, que foi piorando a cada minuto, e nos últimos momentos uivou de dor durante horas com a cabeça colada ao meu rosto. Nos estertores finais pedi que se alguém pudesse deixar minha amiga por mais algum tempo eu ficaria imensamente agradecido, e ai talvez para mostrar o seu poder, esse alguém, após o último suspiro da minha amiga, eu desesperado lhe fazendo massagem no coração e pedindo: Não me deixa querida, por favor, tudo parou, mas de repente sinto seu peito oscilar e ela voltou a respirar novamente, e de repente sinto que existe alguém que me ouve, que ainda sou digno de ser ouvido.
Fiquei de vigília durante duas horas, até que novamente começaram os espasmos e numa cena horrível minha amiga se despediu para sempre. E ai me veio à idéia da vingança. Por que teria sofrido tanto aquele animalzinho que não tinha nenhum pecado cometido? Talvez o recado fosse para mim, que tantos já cometi, e muitos outros cometerei enquanto não chega minha hora de uivar para satisfação de alguém.
Estaria certo Arthur Shopenhauen na sua primeira visão de mundo? Estou perguntando por que não tenho certeza, a dor da perda de um ente querido com certeza é a maior de todas, e ainda por cima é para sempre, não há nem como pedir para que a saudade seja enterrada junto, pois isto acarretaria justamente o esquecimento, portanto a saudade é a dor da lembrança dos bons momentos.
Já soube que alguém disse o seguinte: É isto que acontece com quem não tem filhos, agora ficar chorando por uma cadela que morre. Gostaria de dizer a este alguém que lamento não ter tido filhos, não por opção, mas que faz algum tempo recebi a notícia que uma amiga que conheci muito jovem, havia sido assassinada pelo filho drogado, por quem ela chorava, por ter escolhido este triste caminho. Não que todos os filhos matem seus pais, com um tiro na nuca como foi este caso, porém muitos os matam de tristeza e aos poucos.
Escrevi este texto ainda sob o impacto da dor, talvez venha a me arrepender mais tarde, sei lá, mas acredito que existe vestibular no Brasil, pela incompetência do país de propiciar universidades suficientes a quem tem direito de cursá-la, assim penso da morte, falta de planejamento. Aja visto que ninguém planeja uma empresa tendo nos seus estatutos o seu fim.
Faço sempre esta pergunta a mim mesmo e até hoje não consegui arquitetar uma resposta convincente: O que será que pensou Deus, quando acordou com a explosão de Hiroshima?


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