Escravos da TV Jó-gavam a vida
Fora, Tira. Bota, Deixa o Novelê Passar...
J. Norinaldo.
Acordei muito cedo e de repente
me senti apavorado, costumo acordar ou levantar por volta do meio dia
geralmente, pois bem, acordei cedo, aos uma noite de sono longo e reparador,
além de bons sonhos e de repente um pavor: levantar para fazer o que? Sabe aquela sensação de total impotência, de
estar no alto mar, num barco pequeno, sem remo, velas ou qualquer tipo de
mecanismo viável para sair dali, e caso os tivesse não saber para onde ir?
Parei, pensei, ou só pensei por que parado já estava, levantei meio perdido
pela falta de prática e pensei em escrever, mas e depois, depois do almoço e a
sesta o que farei? Escrever novamente? Será que alguém vai ler o que escrevi,
essa certeza sim, me traria um pouco de paz? Não, sei. Passei o restante do dia
apavorado pensando na possibilidade de mais da metade do meu mundo está bem a
minha frente, meu quarto. Tomei uma decisão: Tinha que ser urgente, troquei de
roupa, já passava das 17h00, tirei o carro velho da garagem e liguei para um
amigo, mais velho que eu, mas que falamos a mesma língua, fazia tempos que não
via e resolvi colocar o papo em dia. Ele me atendeu, disse-me que estaria em
casa e lá fui eu. Muito bem recebido, sentamos numa varanda e começamos a
conversar, até pensei de repente que meu pavor não fazia tanto sentido;
conversa boa, filosofia, poesia, literatura e vida, sabe com é, quando estamos
gostando da prosa o tempo não gosta de bom papo e passa rápido, não para mim,
que tenho tempo de sobra, pensei que para meu velho amigo também, mas a vida
também não é como pensamos ou como a rotulamos, tem seus caprichos, afinal é
mulher. Vejo meu amigo parecer a começar ficar aflito, olhava para o relógio,
ainda usa relógio acredita? E educadamente, mas um pouco triste, pois estava
gostando muito de ter descoberto que ainda sabia fazer algo que há muito não
fazia, conversar com a boca, vez por outra olhava para os dedos e pensava:
Calados! Sorria em silencio. Olha Fulano! Se tiveres algum compromisso, não te melindre
em me correr, afinal, agora já perdeu realmente o medo e vez por outra venho te
encher aqui. E ai veio a bomba que realmente acabou por me matar de vez, não só
as esperanças de voltar a viver, de procurar outras pessoas que como eu,
viveram muito, andaram muito, mas que agora seu mundo e sua estrada estão
resumidos ao corredor do dormitório; o meu velho amigo me disse: Sabe, a melhor
hora para conversarmos é realmente as 10h00, por que daqui a pouco começa as
novelas e sou viciado, não perco uma; por que não fazes o mesmo, eu já não
tenho esse tipo de problemas do qual me falastes tanto, e depois durmo como uma
pedra, nem lembro do que sonhei. Sai dali, perdi o caminho de casa, escutei
várias buzinadas e xingamentos nos sinais, abriam e eu não via, coisa difícil de
acontecer, pensei num pensamento que aqui coloquei outro dia, pensamento meu: “Ninguém
saberá que sou um velho sem me ver”; até
parece pensei naquele momento. Contei para outro amigo sem dizer o nome de
quem, e ele vaticinou: Se ele é feliz vendo novelas, quem sabe o destino não te
mandou lá para fazer o mesmo? Sabe, não vejo
todas, mas desde aquela do João gibão...Pensou e veio, Pavão Misterioso,
nunca mais parei com elas, sabe, as novelas, portanto, não me viste só por
visitar a partir das 18h00, e depois delas, sabe as novelas, ai sim, o quarto é
o meu mundo.
Considero-me um homem morto,
porém muito teimoso, cismei que só vou cair quando alguém me convencer de vez
que o sofá e a telinha cheia de mentiras e hipocrisias são melhores e mais convincentes
que meus sonhos e até meus pesadelos, sem nenhum preconceito, vou dar meu
jeito, de não ter que encher o saco dos meus amigos as 10h00 da manhã, isto até
que não se inventem novelas nesse horário. Voltei para casa e autorizei a
mulher a usar meu velho banco do oitão como lenha do fogão a lenha, ora falando
do meu amigo que ainda usa relógio, ela não fará isto por que sabe bem que
ainda ali sento e converso muito, sozinho é claro, ou como se diz: com meus
botões, enquanto estes ainda não fazem
questão de ficarem na sala, num cabide, vendo Televisão...
A foto acima eu digitei: Escravos das
Novelas e não Nas Novelas. Vejam o que achei...
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