Saudade Dói, mas não Mata.
J. Norinaldo.
Muitas vezes eu me flagro
pensando, divagando que esta cidade
nunca existiu a não ser na minha mente fértil fantasiosa de escritor e
poeta que penso que sou. Na maneira que existiu e como a conheci, as amizades formadas
ali e que muita delas perduram até hoje e com certeza até o final das vidas.
Outras vezes penso tratar-se de uma cidade encantada que aparece ou existe
apenas para alguns privilegiados.
Sempre que vejo filhos deste
lugar ou pessoas que apenas aqui viveram se referirem a ela é de uma maneira
tão especial, que mesmo em algumas brincadeiras que de certo modo para outra
cidade soaria de mau gosto, sinto certa dose de amor na própria ironia. Vim
conhecê-la por acaso, ou para ali o destino me levou, existem certos lugares
nesta cidade a que me refiro em que sinto algo tão bom e tão estranho que na
verdade não saberia explicar.
Quando era muito pequeno, lá na minha amada
Vila de Cachoeirinha PE, estudei em uma Escola pequena, porém para mim naquele
tempo era a maior do planeta, eram duas peças com um espaço central e um
alpendre que rodeava toda a escola;
parte que servia de sala de aulas, pois na outra morava o zelador com a
família, sempre que tinha oportunidade eu ficava parado no alpendre que ficava
atrás da sala de aula, por minutos e ali
parecia viajar, ou sentia um bem estar
tão grande que me faltam palavras adequadas para dizê-las.
Pois, muito bem esta cidade supracitada tem
alguns lugares onde me senti assim por muitas vezes; alguns hoje nem existem
mais como eram antes. Faz 10 anos que estive em minha Vila hoje Cidade, e quase
40 anos depois, minha Escolinha já não existe mais, para minha tristeza, mas
para um último resquício de alegria, restava o piso e fiz questão de procurar o
meu lugarzinho e estranhamente para muitos que ali passavam fiquei parado e
tive a quase certeza que estava no lugar certo.
Outro dia telefonei a um colega e ele me
perguntou: Estás sabendo que há um boato que os Fuzileiros Navais voltarão para
Uruguaiana? Não! Respondi. E nem sei se isto seria para nós que ali vivemos,
vivenciamos tantos fatos, guardamos tantas fotos junto com tantos que hoje já
não estão mais entre nós para se deleitar com tal notícia. Sempre que vou a
Uruguaiana faço questão de uma visita ao velho Grupamento, mesmo lembrando que
chegava de manhã e a primeira ideia era ir embora, e ao Mausoléu dos Fuzileiros Navais, onde estão antigos
companheiros de farda e de aventuras, apesar da dor que isto me causa, só
deixarei de fazê-lo quando realmente não mais puder.
Tenho certeza que este sentimento
não é exclusivamente meu, que ali pisei pela primeira vez no carnaval de 1969,
não me lembro se foi neste ano que os cabelos de Bom-Bril da nega Tereza se
enrolou nos fios elétricos dando um susto no Vilmar. São tempos que não voltam
mais, mas como com os tempos modernos conversar é algo em extinção, se não
escrevermos de vez em quando o que o coração insiste e a alma manda, no passado
tão bonito poderá ficar trancado no paiol do esquecimento, e corramos o risco de
que nossos netos sejam privados de uma história tão gloriosa e bonita.
Aproveitemos este mesmo modernismo que serve
para aproximar quem está longe e distanciar que está perto e reviremos os
armários e as velhas caixas de sapatos e postemos aqui fotos mesmo que velhas e
amareladas. Saudade dói, mas não mata.
Imagine esta foto e feche os
olhos e imagine a Banda do Lino na Frente. Caso venha a chorar, não se
envergonhe, eu chorei ao escrever isto. Chorar de saudades de coisas boas faz
bem para os velhos corações.
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