Aparência ou Conteúdo?
J. Norinaldo
Há poucos dias, me encontrava na
companhia de uma mulher muito bonita não vou colocar seu nome aqui é claro, mas
estávamos em um lugar público, quando chegaram outras duas mulheres e sentaram-se
bem próximo a nossa mesa, nos olharam e passaram a trocar olhares e cochichos
enquanto olhavam sem nenhuma reserva para mim e davam risadas; eram bem explicitas
e deselegantes, riam de mim, não para mim e sei bem por que, reconheço que não são
bem na foto, ou como diz o carioca: não bato bem de feições. Não fosse talvez à
condição de casal que aparentavam serem, essas criaturas também chamariam a
atenção de outras pessoas, por exemplo, da minha companhia, exatamente por
aquilo que tenho de sobra. Falei para o meu par, que na verdade era uma amiga:
Não te preocupa por que estão rindo de mim, quem sabe pensando: o que quer essa
mulher tão linda com um cara desses. O episódio prosseguiu até que me irritou,
apesar de acostumado com essas situações, achei que estavam abusando; de
repente uma delas levantou-se para ir ao banheiro ou toalete sei lá, e aproveitei
a deixa que passou ao nosso lado, aproveitando que não havia ninguém perto,
falei de maneira muito mal educada retocada de ironia e gaiatice para minha
companheira: Por que você não deixa de ser egoísta e empresta um pouco de bunda
para essa ai, nossa! Ela parece uma barata. Recebi um olhar de censura, mas
logo a seguir um belo sorriso, a tal mulher voltou do banheiro, pegou a outra
pelo braço e sumiram. Rimos um pouco, não sei se feliz com minha atitude, pois
de uma coisa tenho certeza, em nada melhorou minha aparência; crime pelo qual
venho pagando há muito tempo, na certeza de ser inocente.
Nesse dia, lembrei-me um outro episódio parecido, encontrava-me com
um amigo também escritor e poeta, jornalista e compositor, menos, mas também
faz parte do meu bloco; conversávamos alegremente na mesa de um bar, quando
chegaram dois casais, esses sim, bonitos elegantes, o que nada tem a ver com
cultura e educação, não tinha mesmo. Logo a seguir, começamos a notar a troca
de olhares a extensão dos mesmos até nossa mesa, e os sorrisos dessa vez mais
disfarçados, e como não podia pedir para meu amigo emprestar nada para elas,
até por que tinham e como, e meu amigo muito pouco, ficamos na nossa
simplesmente.
De repente adentra o local, uma
senhora muito elegante, com cerca de 60 anos, dessas quem lembram a rainha Vitória,
cabelos brancos quase azulados, acompanhada por uma jovem lindíssima, que
trazia numa das mãos um livro. Parou diante da nossa e a jovem nos cumprimentou
e disse com um belíssimo sorriso: Poderiam me dedicar este livro, por favor,
não sou daqui e, portanto não estive no lançamento. Era uma Antologia Poética
da qual fazíamos parte com alguns trabalhos. Claro com muito prazer, aquele
papo de sempre, fizemos pose depois para uma foto ao lado das duas, depois da
uma e ficamos novamente sozinhos, por que os casais não quiseram saber de autógrafos
nenhum, escafederam-se. Dias depois, fui ao mesmo local e o garçom me procurou
me confidenciando: Sabe aqueles casais que estavam rindo de vocês aquele dia? Isto me deixou de certo modo mais
constrangido, então até o garçom notara. Sim lembro que houve com eles? Um dos,
veio aqui esta semana e me perguntou quem eram vocês se eu os conhecia. Tá, e daí?
Eu falei que vocês são verdadeiras lendas da poesia e da literatura brasileira.
Demos boas risadas, e pensei: lenda só se for pelo motivo que riam, depois
perguntei: e a reação qual foi? Olha, não poderia ter sido pior, o cara de pau
olhou para a mulher e disse: Eu tinha quase certeza que sabia quem eram...
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