quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


A Barriga e a Soberba.
J. Norinaldo.


Outro dia vinha por uma rua tranquila, estrada de chão, quando num cruzamento vi três moças muito bonitas, parei e fiz sinal para que passassem, elas hesitavam, fingiam que iam e paravam, enfim pararam e avancei bem devagar, uma das moças assim que minha camioneta passou por elas, levantou o pé e deu um chute na lataria, vi pelo retrovisor, como usava uma sai muito curta, vi suas calcinhas azuis, ouvi quando disse: passa com esse caco, além de pobre feio. Não me preocupei muito com o chute, pois meu velho carro está realmente precisando de uma nova pintura, mas sai pensando o que leva alguém aparentemente bonito, saudável, e sendo bonito e saudável por que não feliz, a ofender  a um semelhante sem nenhum motivo aparente; aliás, ofender pelo jeito de falar, pois realmente sou feio e pobre, não tenho como esconder isto.
Passaram-se alguns meses, e cheguei em casa minha mulher conversava com um senhor a respeito da grama do jardim, logo o vi aparando a grama, terminado a tarefa, paguei ao referido senhor, que juntou suas coisas e foi embora; dias depois, procurava uma certa marca de manteiga num super. mercado, quando vi a bela moça que chutara meu carro e me dissera as gracinhas citadas acima, empurrava um carrinho, e quem ia colocando as coisas dentro dele? O mesmo homem que cortara minha grama. Procurei me informar a respeito, e fique sabendo que era seu pai.
Passados mais alguns dias, eu estava deitado e minha mulher jogava no computador, quando a campainha tocou, ela gritou, atende ai, que eu no memento não posso. Fio até a porta e era o dito senhor das gramas, não o senhor dos anéis. Avisei a mulher e esta gritou: diz para ele que ainda é muito cedo para aparar novamente, que venha daqui a duas semanas, avisei ao homem que me disse: dá para o senhor vir até aqui, não escuto bem; aproximei-me e ele me disse: eu falei pra ela que cortava a grama por RS 50,00, mas se por acaso ela não tenha, aceito comida, arroz, feijão, açúcar, o que ela puder me ajudar, estou realmente precisando.  Parei, pensei, lembrei as palavras e o gesto daquela menina bonita; o que aquele pobre homem tinha a ver com a atitude da filha? Lhe disse: pode vir cortar a grama que lhe pago.
O destino preparara uma armadilha para aquela moça, no outro dia, por volta das 16:00hs, fazia muito calor, eu me encontrava na minha sala escrevendo quando minha mulher me chamou, o homem havia terminado o serviço, fui pegar a carteira para efetuar seu pagamento, quando sai a varanda, vi a menina bonita, que chutara meu carro, que me chamara de feio e pobre, colocando na rua o último saco de grama que havia juntado do meu jardim. Olhou para mim, em seguida baixou os olhos, e não sei, mas, pensei ver uma lágrima neles, não posso dizer se de vergonha ou de remorso, se de vergonha não cresceu nada em meu conceito, pois trabalhar jamais envergonha ninguém, se de remorso, não sei  o que pensar. Porém com ela aprendi uma coisa muito importante: pensar muito antes de chutar algo ou alguém pobre, já que chutar alguém rico somente um pobre de mente, ou simplesmente demente.

Um comentário:

  1. é...mas, creio ser apenas um ato irresponsável quando em meio às outras... a velha vaidade do querer 'aparecer'... um bom exemplo em crônica... bjuuu

    ResponderExcluir