Desamor ou Desapego e muito amor?
J. Norinaldo.
Lendo a primeira crônica de
alguém a quem convidei a participar do Blog, além de verificar o quanto não valorizamos uma criança
intelectualmente apenas por ser criança, pude também recordar algo que talvez
já esteja escrito por aqui e não me lembre. Posso não me lembrar se postei ou
não, mas do fato jamais esquecerei; só discordo da Anamélcia autora da crônica supracitada
no nome “ A Arte de Desamar” eu colocaria de Desapego.
Morava eu Duque de Caxias numa
casinha pequena e isolada, apesar do Bairro nobre 25 de Agosto a rua monte Caseiros,
esta ficava nos fundos de um terreno
enorme e tendo uma ladeira íngreme, uma escadinha junto ao muito da direita
levava as duas casinhas construídas no final do terreno, não havia telhado e a laje
era tão baixinha, pois em frente a cada casinha havia outra escada menor,
portanto podíamos nos sentar sobre a laje sem muito esforço.
Um belo dia, minha mulher chegou a
casa com um belíssimo pombo, marrom escuro e partes brancas, muito lindo mesmo,
perguntei onde o conseguira e ela me explicou que o havia encontrado se
arrastando pelo lixo com uma asa quebrada. Pegamos aquela pobre ave, ficamos
horas a fio a fazer uma tala, enquanto minha mulher preparava os materiais necessários,
fui a farmácia compra, mercúrio, iodo tinha em casa, gaze e esparadrapo. Por
falta de prática fizemos um trabalho horrível, mas que não fez com que nosso
paciente servisse de chacota, já que não havia nenhum outro pombo por perto e
após a cirurgia foi direto para uma caixa de papelão forrada com alguns trapos
para o também pequeno banheiro da casa.
Ficamos felizes ao ver que se
alimentava normalmente, e com o passar dos dias, e com o sofrimento dos novos
curativos, dentro de dois meses nosso paciente estava novo de novo, com algumas
escoriações é claro já não ostentava a beleza total do seu penacho, coisa que sabíamos
que seria questão de pouco tempo para voltar ao normal. Num sábado pela manhã,
pegamos a caixa e com seu morador e levamos até a praça de Duque de Caxias,
onde havia uma grande quantidade de pombos, não se se hoje ainda existem, e
abrimos a caixa e para nossa total felicidade, após alguma vacilação nosso
cliente alçou voo e juntou-se aos seus pares, para os nossos olhos numa enorme
felicidade de voltar ao convívio dos amigos e até do seu amor. Lembro-me que
retornamos com os olhos úmidos. Quando subíamos a passarela que cruza a linha
do trem, olhamos para uma lanchonete que tinha na frente uma máquina de fazer
caldo de cana, muito minha conhecida, pois os pastéis dali eram famosos, em
cima havia uma caixa d’água de cimento e vimos nosso amigo como se caísse dentro
da mesma; tomamos um grande susto, ainda pensei sair por cima do muro da
ferrovia o que me levaria até a tal caixa d’água e poderia salvar novamente
nosso amigo, mas não houve necessidade, que alívio, de repente ele surgiu
novamente e desapareceu voando com muita elegância. Orgulhosos pelo nosso ato, saímos
falando a respeito e subimos o morro do Bairro 25 de Agosto até nossa casinha,
foi ai que tivemos a maior surpresa daquela aventura, nosso paciente estava em
cima do murinho que ficava abaixo da minha altura, e parecia dançar quando nos
enxergou; Tentamos pega-lo, mas não conseguimos, mas contamos com suas periódicas
visitas por muito tempo, depois inclusive acompanhado, A Cila minha mulher
juntava restos de pães e colocava numa
velha bandeja, e não era anormal acordar com seu Arrulhar. Dei-lhe o nome de Ralph em
homenagem ao Paciente Inglês; que tempos depois também foi o nome de um cão que
eu amei muito.
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