MANIPULAÇÃO.
J. Norinaldo.
Porque eu odeio se manipulado?
Quando era muito pequeno, uma amiga da minha mãe que trabalhava para uma
família muito rica e talvez por algum descuido quebrou-se alguma peça de louça e essa senhora me trouxe de presente
uma caneca muito bonita, eu nunca tinha visto nada igual, tinha grande amor por
aquele presente e principalmente pelas figuras nele impressas, eram meninos e
meninas vestidos de maneira muito estranha,
pelo menos para mim, as crianças também em nada eram parecidas com as da
minha vila, a não ser o fato de serem crianças. Pareciam vermelhas e sardentas.
Uma vez esteve em minha casa uma pessoa que considerei muito sábia e eu como
era a única coisa importante que tinha para mostrar, peguei minha caneca e
levei para que visse tal maravilha; ele olhou bem para aquelas crianças, as
meninas além dos vestidos longos, usavam uma espécie de avental e uma boina
muito grande, atirada pra um lado, usavam botas como os meninos que também eram
muito brancos e sardentos. E foi ai, que fiquei sabendo tratar-se de crianças
alemãs, eu já ouvira falar na Alemanha é claro por causa da guerra que
terminara fazia poucos anos, mas não fazia ideia de como eram as crianças de lá
e nem para que lado ficava. Tomei uma verdadeira aula de história Universal
quando não sabia ainda a história da rua da vila onde vivia. E como soube
também que as crianças nada tinham a ver com a guerra a não ser o sofrimento,
passei a gostar mais da minha caneca e a admirar meus mais novos amigos da
Alemanha, que perguntei a este sábio homem quantos dias levariam para chegar à
Alemanha, no ônibus que passava em minha vila cujo nome era Barriga; e fui
informado que nunca chegaria, a quantidade de anos que ele aventou, era demais
para a minha cabeça, mas fiquei sabendo que era muito longe, muito mais longe
do que Caruaru. Esses meninos amenizaram por muito tempo a minha solidão, além
de contar cheio de empolgação aos amiguinhos sobre os meus amigos estrangeiros,
alemãs; assim me ensinara o sábio: “Crianças Alemãs”. Sem deixar que ninguém a
tocasse é claro. Um belo dia apareceu alguém na minha casa e acreditei que
fosse digna de conhecer a história da minha caneca, me esmerei ao máximo
romanceando um tanto, pois creio que naquela época a veia de romancista já
corria algum sangue; qual não foi minha decepção quando ao final da empolgada
narração esta pessoa com um frieza de assustar diz: Que bobagem, essa crianças
devem ter sido fabricada no máximo em Recife, são apenas desenhos que devem
está em milhares canecas iguais a estas; quem foi que lhe contou essa bobagem.
Que ódio! Não sei se já sabia o que era, mas sei que oi o que senti, todos meus
sonhos brincado com aqueles meninos e meninas, os passeios pelos riachos na
Alemanha, os ninhos de passarinhos que achávamos e que eram mais bonitos dos
que os que eu conhecia, a quebrado encanto do encontro todo dia pela manhã no
meu humilde café; tudo isto foi para o brejo, passei inclusive a ter raiva das
figuras e de mim mesmo por ter sido idiota; Um dia, uma galinha que acabara de
botar gritava feito uma louca e minha mãe a espantou com uma vassoura, ela
pulou em cima da mesa e quebrou a tal caneca. Minha mãe coitada consternada
quase chora e eu a consolei com algo que deve ter morrido sem ter entendido
nada: não tem importância, era uma mentira mesmo. Desde então, odeio ser
manipulado ou manipular alguém; outro dia uma amiga aqui me disse: “Da maneira
praticando sincericídio, dificilmente terás muitos amigos”. Gostei da palavra,
não posso falar em nome de ninguém sem ter nenhuma procuração, mas tenho quase
certeza que toda criança que foi manipulada com mentiras, odiou quando
descobriu a verdade.
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