Um Rolezinho aqui, Uma Carreirinha ali e
Assim vai.
J. Norinaldo.
Eu sou pobre, feio e moro longe,
tem coisa pior? Não sei, mas detesto discriminação e preconceito, por isto
mesmo passo longe onde possam estar essas figuras. Agora vejo nos noticiários
esta história de rolezinho, o pessoal do morro e da periferia marcando encontros
nos grandes Shoppings freqüentados pelas classes altas. Eu não vou, já disse
que fujo da discriminação como o diabo foge da cruz, por que eu nunca consegui
realmente entender, se usaram a cruz como equipamento de tortura, portanto o
diabo deveria gostar dela; bem mas o assunto não é esse, é o que mesmo? Ah!
Sim, o rolezinho. Pois é, quem sabe seguindo aquela premissa de que a melhor
maneira de se livrar do medo é enfrentando-o, será premissa isto? Bem seja lá o
que for, você vai entender, a rapaziada quer ir lá e dar a acara a tapa; sei
lá, se isto é uma boa. Se pelo menos aprendessem algo de bom com os ricos, até
que valeria a pena, mas pelo que temos visto, aprendem apenas o gosto por
roupas e calçados de marca, como se mudando a pele mudasse também a vida. Uma
vez, me confundiram com um rico, não sei por que, pois não tenho nenhum cacoete
disto e sinceramente não sei como me senti; agora posso dizer pra vocês que um
rico pode até se passar por pobre, já vimos isto em histórias contadas pelo
cinema, o contrário é quase impossível. O pobre vai ao Paraguai e compra um
Som, e ai amigos adeus sossego dos vizinhos, eu que o diga: Bum, Bum Bum e a
vibração nas janelas parece até que o mundo vai acabar. Ah! E um Pendrive com 654.000 musicas, todas elas quase iguais,
e justamente as que os vizinhos não curtem, se curtiam antes passam a odiar pelo
volume e pela repetição, mas o que vale é mostrar o som, vamos escrever
maiúsculo SOM. Não contente apenas com o barulho, coloquemos o SOM na rua,
todos precisam vê-lo, admira-lo, invejá-lo... Na verdade odiá-lo.
Uma vez fui ao Rio de Janeiro e
fui convidado por um amigo que morava numa favela barra pesada para passar uns dias com ele, morrendo de medo, mas com
sua garantia que o diabo não era tão feio como se dizia fui, a noite da janela
da sua casa que ficava bem no alto, vi vários carrões entrando e saindo da
favela, seus donos nem desciam, surgia alguém de algum beco, falavam algo
rapidamente e em seguida saiam por onde vieram, comente com meu amigo e fiquei
sabendo. Eram os ricos fazendo um Rolezinho no morro, comprando algo que os
deixava tão pobres, mas leva os pobres do morro também a usarem tentando sonhar
em serem ricos, morarem em mansões
na zona Sul, para depois virem de
carrões aos morros buscar sonhos, como se os sonhos do alto, representassem um
pequeno monte de terra que os cobrirá por fim, quando praticamente forem
caminhando a passos trôpegos para o sono derradeiro. O último role da vida
depois da última carreirinha.
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