A Mente Vazia e a Lembrança da
Cerca.
J. norinaldo.
Eu ouvi um causo aqui no Rio
Grande do sul, aonde cheguei lá pelos idos de 1969 e fui direto para a
campanha, ou seja, Vila Garruchos, hoje cidade de Garruchos, como não havia luz
elétrica no lugar os habitantes se recolhiam cedo, e alguns se juntavam no Clube
Getúlio Vargas para beber e conversar, coisa tão em desuso hoje. Muito bem, alguém
contou que havia uma bialanta para fora, (Salão de Baile fora da Vila) e
que era muito antiga. Na verdade são
dois causos em um só. Mas acredito dar conta deles. Um dia, o presidente da tal
bailanta veio a Garruchos solicitar do presidente do clube o empréstimo de 20 mesas e 40 cadeiras para um baile que ia haver;
dias depois chegou a vila apavorado, um gaucho que procurou o presidente do
clube denunciando que estivera presente quando da ocasião do pedido das mesas e
cadeiras por empréstimo, e que no momento estavam vendendo as mesmas lá no
rincão onde haveria o Baile, inclusive tendo-lhe sido oferecido uma mesa com
quatro cadeiras por um preço irrisório. Este foi um. O outro que esta bailanta
era muito antiga e que ao seu redor
havia uma cerca de bambus de um metro e meio de altura mais ou menos; um dia
antes de um grande baile o responsável achando que aquela cerca era velha e
tirava a beleza da casa, mandou retira-la por completo. No meio do baile houve
um desentendimento e alguém puxou de um revolver e apareceram mais de trinta e
como diz o gaucho houve um turubamba de bala, que um amigo meu o grande amigo Poeta Cindinho (Gumercindo Medeiros Filho)
disse numa de suas poesias que foi grande a gritedo das senhoras o agarra e puxa, puxa que aproveitou para ver as horas no
clarão de uma garrucha. Mas que no final, morreu mais gente de pescoço quebrado
tentando pular a cerca que do próprio tiroteio. Neste momento a cabeça já não estava mais vazia, de cerveja e pinga é claro.
Isto me leva a pensar, você passa
30 anos num lugar ouvindo todo dia quase a mesma coisa, fazendo todo dia quase
a mesma coisa, é difícil depois que sai se livrar do hábito, assim como da
cerca que não existia, mas costume do cachimbo deixa a boca torta, todos ou
quase todos se quebram ou morreram tentando pular o vazio. Principalmente que
chegou com a cabeça vazia, jamais se livrará da cerca ou do que quem podia
falar dizia.
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