Cá Entre Nós.

J. Norinaldo.

Quando foi anunciado na Suíça que o Brasil sediaria a Copa do Mundo de 2014, não me lembro de ter visto nenhuma manchete em jornais brasileiros alertando para os custos de tal investimento inútil para a maior parte do povo deste país. Lembro sim, de carreatas, bandeiraços e bebedeira, muita euforia.

O Mesmo ocorreu com a África do Sul, um país devastado pela fome e pela segregação racial, que gastou bilhões de Dólares na construção de Estádios monumentais, aeroportos que ficaram lotados durante o evento; e depois? Quais são os grandes times de futebol daquele país para fazerem uso dos monumentais estádios, nunca mais vi engarrafamento em aeroportos sul africano.

Sabe o que vi? Os pobres saindo dos guetos, munidos de Vuvuzelas, fazendo a maior zoada do planeta. Os fabricantes de tais cornetas, estes sim, devem ter ficado milionários. No início, até se achava graça de tal barulho, depois os comentários eram subliminarmente pejorativos. Como: Fazer o que, é o jeito deles. Pessoas com protetores de ouvidos nos estádios, quem sabe se não chamasse tanto a atenção com máscaras, como fez o astro Pop americano no Brasil.

Tenho certeza, que por aqui não será diferente, Além do valor pago pelo Brasil, que já ultrapassa o que foi gasto nas três últimas Copas, com certeza fabricantes de bandeiras, cornetas, papel verde amarelo, não darão vencimento à demanda.

É deveras lamentável que tudo isto esteja acontecendo num governo eleito com a promessa de austeridade e combate a corrupção e a festa da gastança com o dinheiro público, no qual eu votei não me arrependo, por que sei bem que nada mudaria caso fosse o outro candidato presidente. Imaginem o que aconteceria se a Presidenta Dilma, vetasse a Copa do Mundo no Brasil, não quero nem pensar.

Enquanto existem no país, tele jornais mostrando o caos nos hospitais públicos, ser humano que ainda vive amontoados em corredores e até banheiros, noutro bloco mostra pessoas do mesmo país brigando em aeroportos de luxo, agredindo funcionários que avisam que o vôo, para o estrangeiro não sairá por que as cinzas do vulcão ameaçam a vida de todos, que querem ver seu time jogar.

Lembro-me que em uma das edições da Copa, um pequeno país fez bonito, não chegou a final, mas foi muito mais longe que se previa. Um jornalista da Globo, entrevistou alguém daquele país, e em certo momento pergunto: Amanhã deve ser feriado em sua pátria, não é mesmo? A resposta nunca vou esquecer: Não, respondeu o outro. Meu país é pobre, um feriado causa prejuízo, pois deixamos de produzir mais, nosso povo sabe disso. Será que o nosso povo, trabalhará também durante os jogos da Seleção aqui no Brasil? Apesar de não sermos um país pobre, a ostentação dos investimentos nesse evento mostra exatamente o contrário. Muitos choram de fome, caídos em cima do ouro. Isto é verdade.

Então reclamamos de que? Temos tudo que precisamos. Boa terra, o que nos falta é mais japoneses para plantar. Boa cerveja, o melhor carnaval do planeta, mulheres bonitas, quase tudo maior do mundo. O melhor futebol, as mulheres mais lindas, a maior carga tributária, liberdade.

Cada povo tem o governo que merece, e o país que merece. Conheci um velho português que quando lhe perguntavam: Como estás Pimenta? Ele respondia: “Não tão bem quanto queria, mas bem melhor do que mereço”.

Acredito que temos o que merecemos. Cá entre nós.